SOU PASTOR, SOLTEIRO, E NÃO CONSIGO FICAR SEM SEXO

—–Original Message—– From: SOU PASTOR, SOLTEIRO, E NÃO CONSIGO FICAR SEM SEXO Sent: segunda-feira, 24 de novembro de 2003 19:11 To: [email protected] Subject: SEXO É MEU PROBLEMA Mensagem: A BARRA DA SAIA!!! Amado Caio, tive a grata satisfação de conhecer-te pessoalmente no Café com Graça, e fiquei encantado com a tua simpatia, singeleza e grandeza de alma! Na verdade, sou um admirador teu de longa data, já fui chamado inclusive de Caiólatra. Como o tema sugere, sou pastor há 11 anos de uma denominação religiosa, e todo este tempo sempre tive dificuldade para controlar os meus impulsos sexuais, o que muitas das vezes me levou a procurar prostitutas e a ter relações com todas as namoradas; além disso, praticava a masturbação de forma exacerbada… O que acontece é o seguinte: tenho convicção do meu chamado e do ministério que Deus me deu, sou um pastor querido e muito usado pelo poder de Deus. No momento estou numa igreja e já tive envolvimentos sexuais com 2 pessoas; aliás, por todas igrejas por onde passei sempre tive problemas nesta área. No momento estou firme e sem ter nenhum contato sexual com ninguém e nem tampouco tenho me masturbado. Gostaria de saber de você o seguinte: É possível continuar sendo pastor desta igreja? A mesma pode crescer sob os meus cuidados? Asseguro-te, que não tenho mais envolvimento e nem tampouco terei, estou buscando auxilio ao Espírito Santo; determinei não pecar mais nesta área. Até aqui o Senhor tem me ajudado! Sou noivo, porém, a minha noiva não sabe nada disto, nem tampouco imagina. As pessoas com quem me envolvi, continuam na igreja, porém, são discretas e me respeitam….não me acusam e não falaram nada até agora…e penso que não falarão, nenhuma sabe da outra. Faz uns 3 meses que rompi com este comportamento. Sempre tive a vontade de falar isso a alguém e tenho a certeza de que serei atendido e levarei em consideração as tuas ponderações. Em Cristo, ____________________________________________________________________________________ Resposta: Meu amigo amado: Domínio próprio e paz sobre você! Foi para um jovem adulto como você que Paulo disse que é melhor casar—mas casar casando—, que viver abrasado! Pelo seu tempo de ministério eu suponho que você esteja com uns 33 a 35 anos, pelo menos. Ora, isso significa que você já vem nessa caminhada há algum tempo… Já deu tempo de pastorear mais de onze anos. A situação descrita por você tem algumas variáveis a serem tocados. O ABRASAMENTO SEXUAL Como eu disse Paulo tem algo a dizer a você. O que ele diz tem sido muito mal compreendido. Ele disse que é “melhor casar do que viver abrasado”. Soa como se ele tivesse dito: dos males o menor. Ou ainda: resolva seu problema de desejo sexual contratando uma esposa. De fato, no meio cristão, como o assunto é tabu e a “coceira” é inegável—e o peso da culpa pelo ato é imputada como gravíssima—, a maioria casa mal, apenas a fim de resolver um “problema”. Nesse caso o sexo é visto como problema. Então, para se resolver tal problema, muitas vezes contrai-se um problema maior: um casamento-fraterno, com uma irmã amada, de cujo casamento nascem filhos considerados “santos”, enquanto o casal, muitas vezes, não sabe porque mesmo sendo ambos cristãos e se amando fraternalmente, não conseguem ter real prazer no casamento. Aí, então, no dia que ele ou ela “provam” outro fruto, enlouquecem; pois descobrem que a “alegria” de fato era muito maior e incomparável. O que Paulo está dizendo é simples: o ser humano, a menos que tenha uma vocação celibatária, sente, naturalmente, necessidades não só afetivas, mas de sexo mesmo. E quem inventou isso não foi o diabo. A natureza toda é assim. Chega uma hora em que o macho quer procriar, possuir, dominar; e a fêmea quer parir. Entre os humanos—que também são animais; negar isto é loucura!—, a complexidade é muito maior. Além de todo os estímulos hormonais, há ainda as necessidades de natureza emocional e afetiva—sem falar na “propaganda”, que é poderosa. Ora, quando um homem passa de uma certa idade—se ele não tiver a dita “vocação”, ou alguma disfunção sexual—, ele terá “fome”. E mais: a necessidade se instala como quem precisa comer. Passa a ser algo de demanda essencial. Portanto, o que Paulo estava fazendo era ser absolutamente “realista”. Ele não conseguia maquiar a realidade. Sabia o que era a natureza humana. E julgava-a pela dele próprio, conforme Romanos 7. Há um lado de toda essa história que pode virar doença pelo excesso. E há um outro lado que se não se manifestar como natural, virará doença também, só que pela via da supressão. Ou seja: a sexualidade tem que se expressar, e modo mais natural em seres adultos é pelo sexo, não pela comida, pela bebida, pela vigília de oração, nem pela pregação, nem pelo amor aos pais. Assim, constatando a “realidade” Paulo diz o seguinte: 1. A realidade é inegável, e não se pode fazer de conta que ela não existe. 2. Não tratar a realidade como realidade, e os fatos intrínsecos, e naturais como eles de fato são; levará o indivíduo ou à supressão danosa para a alma—à menos que esse seja o “chamado”—, ou o conduzirá para a dissolução, pelo excesso. 3. Daí, o equilíbrio, para Paulo, ser o casamento; onde desejo, afeto, amizade e fraternidade devem se encontrar a fim de realizar a conjugalidade em plenitude. Não há plena conjugalidade sem que todas essas dimensões estejam envolvidas. Um casamento que seja só desejo, virará “lua de fel”, pura doença. Se for só amizade, não produzirá as alegrias do desejo. Se for só fraternidade, gerará um vinculo sacerdotal, solidário, porém sem os elementos lúdicos e sem a animalidade que é pertinente à também a realidade, e à condição dos humanos. Enfim, tem que haver tudo isto para poder ser bom. E o que amarra isso tudo é o amor. Ora, quanto às formas de casamento, não falarei aqui. Já falei. Você pode ler em Cartas, na resposta “O que você pensa sobre sexo antes do casamento?” Leia lá, assim, eu não serei repetitivo com os demais. O casamento, portanto, deve ter tais conteúdos. Em havendo, então, fica valendo para sempre o que Paulo disse: É melhor casar—ter um vínculo dessa qualidade—, que viver abrasado. O abrasamento não é algo contra o que se deva estabelecer uma “competição”, do tipo: deixa ver até onde suporto essa barra. Ninguém consegue sair ganhando. Isso mesmo quando “evita” o ato; pois, de qualquer modo, ainda assim está “perdendo”. O SEU HITÓRICO Você disse: “…sempre tive dificuldade para controlar os meus impulsos sexuais, o que muitas vezes me levou a procurar prostitutas e a ter relações com todas as namoradas; além disso, praticava a masturbação de forma exacerbada…o que acontece é o seguinte: tenho convicção do meu chamado e do ministério que Deus me deu, sou um pastor querido e muito usado pelo poder de Deus. No momento estou numa igreja e já tive envolvimentos sexuais com 2 pessoas; aliás, por todas igrejas por onde passei sempre tive problemas nesta área. No momento estou firme e sem ter nenhum contato sexual com ninguém e nem tampouco tenho me masturbado.” Você disse que até três meses atrás era assim. De lá para cá você vem sossegando…ou lutando mais… No entanto, há um histórico longo…todas as igrejas…todas as namoradas…as prostitutas…a masturbação compulsiva… Ora, meu amado, não há como negar que há uma pulsão sem controle em você. É mais que um simples abrasamento. E com isto não digo que você não tenha o poder de controlar. O que digo é que controlando ou não “fora”, há um problema “dentro”—apareça ele ou não de modo concreto. Você mencionou as duas últimas mulheres com quem você transou e que são dessa sua atual igreja. Pelo perfil da sua descrição, sendo você o pastor, acho difícil que elas estejam tão quietas à menos que sejam casadas. Duas meninas solteiras provavelmente já teriam feito uma grande confusão. Vi que você se preocupa em que uma não saiba da outra; afinal, isso poderia tirar de ambas o respeito advindo da “exclusividade” da entrega. Você teme que se elas deixarem de se saber especiais possam ficar zangadas, e, então, começarem a insinuar ou falar. Não resta a menor dúvida de que esse é um problemão horrível: estar pastoreando uma igreja na qual você já levou pra cama duas irmãzinhas. Aí vem o maior problema agora: você está noivo, vinha “traçando essa moçada toda” enquanto noivo—certamente você e sua noiva também já transaram—, e não me falou uma única vez acerca dela. Sua noiva soou a um “tapa buraco”. Não houve uma única palavra a fim de descrevê-la, defini-la, dizer o que você sente por ela e ela por você…etc… O que eu penso? 1. Que seu ministério pode ter ainda um bom futuro se você parar isto AGORA. Do contrário, você vai sofrer, e vai magoar a muitas de suas ovelhas. 2. Que você está correndo o risco de estar casando apenas para botar um tampão nessa sangria. Veja quem é sua noiva para você. De fato, um cara apaixonado pela noiva não sai por aí “pegando” ninguém, muito menos as ovelhas. Daí eu achar que há algo muito errado também nesse seu noivado. Por enquanto esse problema é somente seu. Mas se você casar, você terá uma “sócia” para o que der e vier; inclusive para a calamidade da traição. Por isso, veja bem se você está casando pelas boas razões, ou se trata-se apenas de um plano estratégico a fim de diminuir os riscos de “derrapada”. 3. A meu ver a masturbação está na base disso tudo, quando estamos falando de um adulto. Você vê a irmãzinha, sente uma atração horrível, então vai e “concebe o desejo” numa masturbação. Então, você já deixou uma linha, uma fronteira para trás. Quando vê a mulher—a irmãzinha—outra vez já sente que a “conhece”. A sua energia muda. Você passa para ela uma onda de sedução e de desejo—tudo inconsciente. E, de várias mulheres, você recebe respostas “abertas”, pois o “vazamento” dessa energia sexual fica lá, passando no ar. Aí, então, junta a fome com a vontade de comer. É na masturbação que você vai passando as fronteiras mentais, e uma vez que você as atravessa, fica muito mais natural prosseguir. E eu lhe digo: a figura do pastor, para muitas pessoas, pode ser uma figura difusa e confusa; especialmente a figura de um pastor solteiro. As pessoas misturam mesmo. E quando o pastor mistura as coisas também, e é solteiro, fica muito mais complicado. Meu pensamento é o seguinte: Se você acha que sem nenhuma cara de pau ainda dá para ficar onde você está, então, eis as minhas sugestões: 1. Chame as duas mulheres—separadamente, é claro—, e peça perdão a elas pelo que aconteceu. Não vá naquela de moralista e nem evoque um “ultimo avivamento ou revelação” a fim de “justificar” sua mudança de mente. Simplesmente confesse seu pecado de modo quebrantado. Elas são as ovelhas. Você é o pastor. É pior do que ginecologista que “pega” as clientes. É pior do que analista que traça a analisada ou analisanda. Basta dizer: “Eu pequei contra o Senhor e contra você”. E deixar morrer aí, para sempre. 2. Veja qual é o papel de sua noiva em sua vida. Isto porque, meu amigo, se você não a ama—e me parece que não—, o casamento teoricamente protegeria você, mas de fato, não o fará, visto que você não a ama. Por isto, provavelmente, seu casamento sem amor criará a situação da calamidade. Se você não ama a sua noiva você vai acabar fazendo outras vezes. Só vale a pena casar se você a amar. Não basta que ela ame você. Você tem que amá-la muito, e ardentemente. 3. Se você mora no Rio, me procure. Imagino que você sabe como me achar. Creio que a gente precisa conversar. Mas se você mora longe, sugiro-lhe que busque um terapeuta e que abra seu coração: suas inseguranças, suas emoções e seus impulsos—todos! Há muita insegurança em você. E também muita inafetividade. Provavelmente até hoje você não tenha sabido o que é amar alguém. E esse é um sério e profundo buraco. Já ajudei pastores no curso dos últimos 30 anos que tiveram a mesma experiência que você, e que conseguiram ficar nas suas igrejas. Aliás, alguns deles estão em suas igrejas há mais de 25 anos, e nunca mais houve nada. Mas um ajuste de consciências teve que ter lugar. Espero que você tenha me entendido. Tudo o que falei foi visando o seu bem. Receba o meu beijão muito carinhoso, e minhas orações. Nele, que é o Pastor que dá a vida pelas ovelhas, Caio