TEÍSMO ABERTO – II

 

 


—– Original Message —–
From: TEÍSMO ABERTO – II
To: [email protected]
Sent: Wednesday, November 22, 2006 3:24 PM
Subject: teismo aberto! teismo aberto!

Acabei de ler o artigo sobre “Teismo Aberto”.
Achei o texto muito esclarecedor, mais fiquei com uma dúvida e gostaria de saber se o senhor poderia me responder.
O senhor afirma que Deus não é manipulador “à moda calvinista”.
Também afirma que o homem não é livre, pois, qualquer pensamento de liberdade, na verdade, é um ilusório ato de “rebelião”. Pois liberdade implica em tomarmos decisões que, de repente, ninguém pode esperar.

Entendi que o melhor jeito de  crer é que Deus não manipula o Homem como um fantoche, e que o mais coerente, é pensar que Deus, por anteceder a existência, conhece todos os nossos atos, reações e anseios. Nada pega Deus de surpresa, pois o Homem não tem a liberdade de fazer algo sem que Deus não saiba. Somos livres entre aspas!
Tô certo?
Muito Obrigado. E que Deus continue te abençoando.
Jorge
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Resposta:

Meu amado amigo: Graça e Paz!


Toda essa questão sobre Soberania de Deus e Liberdade humana não existiu em importância para Jesus.

Ele afirma que Deus é Senhor de todas as coisas, e, ao mesmo tempo, diz que as decisões humanas são humanas, e têm conseqüências.

Jesus não disse onde Deus entra e onde o homem sai em qualquer que seja o processo — exceto quando disse que há uma coisa que somente o Pai sabe; e que nem anjos, nem os homens, e mesmo o Filho não sabe.

O Filho não sabe! Pode o homem saber? 

A síntese disso, para Jesus, por ser inalcançável aos homens, não merecia doutrinação. Não era e não é possível transformar tal realidade em material lógico; pois, de fato, trata-se de algo tão misterioso quanto Deus. Se Deus puder ser explicado, então também se poderá explicar a conciliação-lógico-finita entre a Soberania de Deus e a Liberdade Humana.

Assim, Deus é Quem é; Como é; e Faz como deseja. Ao mesmo tempo em que o homem é livre para escolher seu caminho, se desce para Jericó, como fizeram o Sacerdote e o Levita, ou se pára a fim de cuidar do assaltado à beira do caminho, como fez o Samaritano.

O mais, de fato não interessa!

Entretanto, o homem livre é ainda escravo de si mesmo. Seu limite é seu próprio pecado. Afinal, pecado é a negação de sua própria proposta; pois, na mesma medida em ele (o pecado) promete liberdade e autodeterminação aos humanos, também, enganosamente, escraviza o homem ao seu próprio ego — que é o que passa a limitá-lo pelas forças do instinto e das pulsões contra a harmonia com o todo da vida; posto que o egoísmo (pseudo-liberdade) não se harmoniza com nada, além de destruir o próprio ego relacional do homem com Deus, consigo mesmo, e com a natureza.

Por isto Jesus disse que todo aquele que comete pecado é escravo do pecado — sendo livre, na maior parte das vezes, apenas para “obedecer a pulsões” de desejos viciantes e escravizadores.

Sim! O homem sem Deus é livre para ficar preso! Inclusive a cadeias de pensamentos fechados, como aqueles que angustiam uma alma a ponto dela pretender prender Deus em um sistema teológico, filosófico ou psicológico.

Deus, entretanto, É. E tudo o que existe, Nele existe. Portanto, toda essa discussão de Deus saber tudo antes…, e ou de não saber tudo…, mas ir crescendo com o homem na construção da História… — é parte da escravidão humana que, escrava que é do egoísmo, deseja também trazer Deus para o plano do explicável, que é uma espécie de cadeia de arrogância, criada pela insegurança gerada pelo pecado, o qual, não habilita o homem a confiar em Deus, e, portanto, no seu melhor, tenta criar uma explicação para Deus.

Deus explicável é Deus preso pelo homem!

A liberdade humana só começa a ser restaurada quando ele descansa da tentativa de explicar Deus, e apenas confia Nele.

Além disso, como pode o homem ser livre se ele morre? Um ser que morre é escravo. Escravo de ser e não poder continuar a ser como deseja. E, a morte, certamente é algo que se os humanos pudessem aboliriam de vez. Portanto, pela própria condição de mortais, toda liberdade humana é apenas sensação de autodeterminação relacionada a qualquer que seja a possibilidade de dizer “não” ou “sim”, exceto ao egoísmo e à morte.

Deus É. O homem existe no ambiente do sendo… Assim, desejar conciliar o que É com o que só é sendo… — é algo mais tolo do que pretender que uma ameba explique Deus para o homem.

Ora, não só o homem e toda a criação existem em Deus, mas também o tempo e o espaço. Portanto, toda essa discussão sobre a Onisciência de Deus (se Ele sabia antes…) é apenas uma questão humana, pois, de fato, para Deus, todos vivem desde sempre.

Passado, presente e futuro são sensações humanas coerentes com a mortalidade; mas nada são além de sensações humanas.

Deus não “foi” o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó. Jesus disse que Ele é. E, assim, também concluiu dizendo que Ele é Deus de vivos e não de mortos; pois Nele todos vivem. E se assim é, então, passado, presente e futuro só não são a mesma coisa para mim, que sou mortal e finito, porém, para Deus, eles (passado, presente e futuro) acontecem em absoluta simultaneidade; posto que Deus É.

Esta também é a razão do Cordeiro ter sido Imolado antes da Existência. Pois, criada a existência, passado, presente e futuro, em Deus, aconteceriam e acontecem como um algo só. E que são mantidos pelo fôlego da Graça.

Quem crê que Deus É não tenta explicar Deus; pois o existente (no caso dos humanos) não está aberto para entender o que É. Portanto, a questão n ão é acerca de “Teismo Aberto” (Deus É; e pronto e ponto!), mas sim acerca de “Homens Abertos” para Deus.

Corações abertos em fé não entendem muita coisa, mas entendem que Deus excede a todo entendimento. E quem entende isso entendeu tudo!

O que passar daí é bobagem!


Nele, que É, e em Quem estamos sendo e sempre seremos, assim como sempre fomos, mesmo antes de sermos existentes,

 

Caio

Ps: Devo admitir que é difícil apenas viver pela fé. Mas quem não faz, não vive.