TESTE DE SIGNIFICADO: mamãe, papai e Sartre!
O que é importante?
Ora, depende de quem responde.
O mundo diz o que as pessoas acham importante; e isto se percebe pelo que elas almejam, lutam, ambicionam, esforçam-se, medem-se, sofrem, investem, deixam-se influenciar, compram, trocam, vestem, escolhem… — de um pólo a outra de tudo a que chamamos existência.
Sobretudo sabe-se o que é importante para uma pessoa pelo tempo e alma que ela investe em coisas, temas, alvos ou pessoas. Ou, como é obvio, pelo oposto disso; ou seja: pelo seu desinteresse…
Assim, se Sartre dizia que a vida é náusea, esperava-se que ele vomitasse sobre as mesas; e não que ele vivesse para regalar-se e embriagar-se — e menos ainda que dissesse “eu te amo” a quem quer que fosse.
Lembrei de Sartre ao ouvir minha mãe dizer, quando voltávamos do Hospital esta noite, que agora, com a idade dela, surgem incontinências noturnas desagradáveis, as quais ela trata como trata tudo o mais — com total naturalidade e bom humor.
“Quando um homem senta no sofá e molha ou suja o assento, fica muito humilhado, e, assim, já não filosofa mais” — li de Sartre numa entrevista antes de morrer.
Ora, que diferença. Uma total não-filosofa [mamãe] ri de sua incontinência urinaria noturna e caminha com alegria; pois, para ela, náusea só dá no estomago, e não na alma, e menos ainda no espírito firme na fé. Já o homem para quem a existência era náusea, diz que não pode mais filosofar sem a não-náusea.
Assim, pergunto:
O que é importante: um homem que filosofa sobre a náusea da existência só enquanto a existência não vira náusea física para ele, ou uma mulher para quem a vida é fé e amor, e que se ri de uma urinada noturna?
A medir pelo resultado existencial, quem vive algo importante: aquele que fala e não vive, ou aquele que não fala e vive para além de toda promessa falada?
Jesus disse que pouco importa, ou mesmo uma só coisa.
O que tem importância?
Ora, vendo meu pai sorvendo gotinhas de suco de caju e bochechando-as como num banquete, e, depois, recebendo uma pedrinha mínima de chocolate e chupando-a como se fora um tudo de sabor, fica-se vendo que pouco basta quando a vida está apenas vida, sem as ilusões da existência mascarada.
Sartre dizia: “É náusea!”.
Hoje, todo mexido e de todos os modos, tendo morrido e sido levantado da morte algumas vezes, e recebido milagres de um poder maravilhoso e divino, o qual brota do espírito em fé — fiquei olhando meu velhinho… Apaixonante até na UTI; até quando esteve “gone…” E pensei: “Que lindo viver para ver um homem passar por tudo isso com esse poder e com essa atitude tão diferente das de quase todos os homens”. Então brinquei com ele, falei algo sobre o chocolatinho… Ele então tentou rir… com o tubo na traquéia [ainda que ele esteja respirando sozinho]… Rir.
Ora, o que é importante?
O importante é essa fagulha indiscernível de alegria da fé e que dá à vida o poder de pegar todas as vicissitudes e transformá-las em glória grata, mesmo que seja um caquinho de chocolate depois de quase quarenta dias sem sabor algum na boca.
Por isto é que Jesus só leva a sério filosofia que se torna vida; e que na vida busca o melhor que dela se pode obter; pois, de fato, não é das importâncias da agitação humana [Marta] que vem o que é essencial, mas sim da leveza que encontra aos pés de Jesus o seu conforto e o seu significado [Maria].
O importante para um homem sem fé é tudo aquilo que o angustia!
O importante para um homem de fé é tudo aquilo no que ele crê!
Sem fé o essencial é a náusea da qual se foge, enquanto acerca dela se filosofa de barriga cheia.
Porém, com fé, o essencial é tudo e é nada; posto que a vida movida pelo motor existencial da fé grata vê no tudo, nada; e vê no nada, tudo; pois, quando tem tudo, para tal homem é hora de considerar tudo como nada; e quando ele não tem nada, é tempo de ampliar os sabores da vida e descobrir que até o ar tem sabor para quem o lambe com gratidão.
Pense nisso!
Caio
13/09/07
Manaus
AM