Tiago, irmão de Judas, irmão de Jesus
Tiago, servo de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, a todos os que andam dispersos pela terra: saúde!
Meus irmãos, mantenham sempre a alegria mesmo quando os tempos forem de provações e muitas dificuldades.
Fiquem sabendo que todas as provações operam em favor da fé e a confirmam em resistência e perseverança em Deus, ainda nesta vida.
Ora, o desenvolvimento dessa resistência interior às circunstâncias externas, deve ser completada em nós.
Isto é o que nos faz seres plenos, inteiros e sempre tratados em nossas deficiências humanas enquanto vivemos em Deus.
Saibamos, todavia, que somente a sabedoria nos conduz à compreensão desse bem divino.
Por isto, se alguém se sente carente de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e não lança em nosso rosto a nossa própria insensatez, pelo contrário: nos concede a graça da sabedoria de Seu conhecimento.
Sabedoria é a graça do conhecimento de Deus.
Portanto, quem buscá-la, busca a Deus. E aquele que busca a Deus, faça-o com fé, em nada duvidando quanto ao interesse de Deus em nos fazer sábios Nele para todo o bem.
Portanto, peça a Deus que dê sabedoria a você e não duvide.
Todo aquele que duvida é semelhante à onda de um mar agitado por forte vento, pois, não tem direção em nada.
A dúvida não é o lugar da sabedoria, e a inconstância não é o lugar de sua morada.
Portanto, quem buscar sabedoria para enfrentar as adversidades da vida, busque isto diante de Deus com toda confiança.
Digo isto porque ninguém deve pensar que sem fé receberá do Senhor alguma coisa, pois, aquele que não crê, é um ser humano de coração inconsistente e, por isto, é inconstante em todos os seus caminhos na vida.
Sabendo que as circunstancias da vida são parte da graça de Deus que realiza todo bem em nós, e discernindo com sabedoria a intenção de Deus em tudo o que permite que nos aconteça, então, de modo prático, algumas compreensões precisam frutificar em nós.
Por exemplo, o irmão que se sente desprovido de bens e condições sociais, glorie-se em sua própria dignidade.
Já aquele que se pensa rico, glorie-se em sua própria insignificância, pois, deve saber que tanto as riquezas quanto o próprio rico, passarão como a flor da erva…
Porque sai o sol com ardor, e a erva seca, e a sua flor cai, e a formosa aparência do seu aspecto perece…assim murchará também o rico em seus caminhos de gloria terrena.
Portanto, entendam que feliz é o ser humano que suporta as lutas desta vida e não as transforma em desculpa para a sua própria tentação.
Isto porque sempre haverá provações!
Aquele, porém, que for aprovado em sua perseverança na prática do bem, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam.
Toda provação pode se transformar numa tentação. E se isto acontecer em sua vida, não diga que você está sendo tentado por Deus.
Não, meus irmãos! Deus não pode ser tentado pelo mal, e Ele mesmo a ninguém tenta!
Toda tentação tem sua residência no próprio coração do homem. Assim, cada um é tentado pelo seu próprio desejo. Desse modo somos tentados apenas por aquilo que nos seduz, por tal coisa ser objeto de nosso desejo cobiçoso.
Sendo assim, devemos saber que uma vez que o desejo se instala definitivamente como cobiça, nasce o pecado como realidade interior.
Então, o pecado, uma vez sendo consumado, gera a morte…como foi desde o princípio.
Ninguém jamais pense que a bondade de Deus não está em permanente operação em toda parte. Tudo o que nos acontece no amor de Deus, é bondade de Deus para nós. Mesmo as tentações e provações cumprem esse papel.
Quanto a isto, nunca se equivoquem meus amados irmãos, pois, sabemos que toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.
E que ninguém jamais esqueça que Ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como as primeiras entre as criaturas.
Esta é a vontade de Deus a nosso respeito.
E há propósito em toda vontade de Deus.
E se somos como primícias de suas criaturas, devemos também ser educados por Ele na prática de todo bem e sabedoria espiritual.
Portanto, todo o homem tenha total disposição de ouvir e entender; seja também reflexivo, paciente e justo no que falar; e seja tardio para se irar.
Todo homem pronto para ouvir e entender será, como conseqüência disso, também tardio para se irar.
Esta é a sabedoria, pois, a ira e a amargura do homem não produzem a justiça de Deus em seu favor. E o sábio prefere a justiça de Deus.
Fomos feitos primícias das criaturas de Deus porque fomos gerados pela Palavra da verdade.
Esta é a razão porque devemos rejeitar toda maldade e resistir ao acumulo de malícia em nós, a fim de que tenhamos coração úmido para acolher a semente da verdade e humilde para aprender com a Palavra da vida que em nós foi implantada, a qual é poderosa para nos salvar e frutificar as nossas almas em todo o bem.
Neste mundo de tantas lutas somente a Palavra da verdade pode nos fazer viver sempre discernindo a sabedoria de Deus em nosso favor.
Por isto, sejamos seres que buscam viver a Palavra, a fim de não nos tornarmos ouvintes viciados e negligentes, pois, se tal se der conosco, estaremos enganando a nós mesmos com falsos discursos de autoconvencimento.
Digo isto, irmãos, porque se alguém se vicia em ser apenas ouvinte da Palavra, e não um seguidor de seus ensinos, torna-se semelhante ao homem que contempla no espelho o seu próprio rosto e acha que lhe basta ver sua própria imagem e reflexo, sem fazer nada para mudar aquilo que percebe acerca de si mesmo, seja em seu caminho interior ou exterior.
Não praticando a Palavra, ele viverá esquecido de quem de fato é, por não reconhecer que a Palavra sempre se cumpre em nós como permanente processo de regeneração.
Grande é a diferença entre ser ouvinte viciado e seguidor desejoso de ser educado no amor de Deus.
O seguidor da Palavra sabe que o propósito da Palavra é produzir liberdade e justiça, por esta razão, persevera na busca de se deixar ensinar por Deus. Portanto, jamais será um ouvinte esquecidiço, mas um praticante de atos e expressões de amor e graça. Assim, será feliz em tudo o que realizar.
Devo ainda dizer, meus irmãos, que se alguém entre vocês julga importante ser religioso, mas não controla o que diz e fala, está apenas vivendo de auto-engano, pois uma religião que não ensina alguém a ter cuidado com o uso de sua própria língua é completamente vã.
Se alguém acha que deve ser religioso, saiba então que a religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta:
Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar o coração das corrupções dos valores deste mundo!
Até a religião demanda isto de seus seguidores. Portanto, se é assim com a religião, como então pensar que a fé em nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, seja compatível com qualquer forma de acepção de pessoas?
Por exemplo, se nas reuniões de vocês entrar algum homem com status e aparência de riqueza e poder, e entrar também algum pobre mal cheiroso e vestido de modo andrajoso, e vocês só tiverem olhos e cuidados para com o homem que aparenta possuir riquezas e poder; e, então, disserem a ele: Vem e assenta-te aqui num lugar de honra!—, ao mesmo tempo em que ao pobre vocês digam: Hei, você! Fique aí em pé, ou então se assente ali abaixo do palco!—; porventura, meus irmãos, não é isto uma horrível forma de distinção que vocês praticam entre vocês mesmos? E, assim fazendo, vocês não se instituíram juízes regidos pelos maus pensamentos das falsas aparências?
Ouçam com atenção meus amados irmãos:
Porventura não escolheu Deus aos considerados pobres deste mundo para serem ricos na fé, e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam?
Se assim é, então, ao tratarem o pobre com descriminação, vocês desonram a quem Deus escolheu.
Porventura não são os poderosos aqueles que oprimem a vocês e que até levam vocês aos tribunais?
Não são eles também aqueles que blasfemam do Bom Nome que sobre vocês é invocado?
Digo isto, não para criar mais acepção de pessoas. Afinal, a Escritura diz: Amarás a teu próximo como a ti mesmo. Esta é toda a lei. E quanto a isto, não há acepção de pessoas…pois a prática do amor não faz distinções entre os membros da espécie humana.
Quem assim entende e pratica, faz bem a si mesmo e ao próximo.
Todavia, se vocês fazem acepção de pessoas, estão pecando e certamente haverão de ser julgados pela lei como transgressores, pois, tornaram-se os juizes que estão sobre a própria lei.
Todavia, qualquer pessoa que guardar toda a lei, mas tropeçar em um só ponto, torna-se culpada como se tivesse transgredido a todos os mandamentos de uma única vez.
E é assim porque Aquele que disse: Não cometerás adultério! é o mesmo que também disse: Não matarás!
Se você não comete adultério, mas mata, você é um transgressor da lei toda, mesmo que você julgue que a sua transgressão é uma só.
Afinal, quem falou a lei foi um só: o Único e Indivisível Deus.
Não se parte a Palavra de Deus em pedacinhos.
O amor a Deus e ao próximo é uma e a mesma coisa.
Por isto, quem faz acepção de pessoas peca contra Deus e contra o próximo, e, sobretudo, põem-se sob o julgamento da própria lei que em sua essência nos manda amar ao próximo.
Por isto, falem e hajam como aqueles que serão julgados pela lei da liberdade. Desse modo, nunca busquem se justificar pela lei, mas somente pela graça e na misericórdia de Deus.
Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não tem misericórdia.
Assim, vivam em misericórdia, pois a misericórdia triunfa sobre o juízo.
Seremos julgados pela lei da liberdade, sendo esta a razão porque é em fé que vivemos.
No entanto, meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não demonstrar tal fé por meio de ações de bondade, misericórdia e graça?
Porventura pode essa fé salvá-lo?
Ora, a fé implica em ação e na prática de obras de amor.
Assim, se um irmão ou irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento quotidiano, e algum de vocês lhe disser: Vá em paz, aqueça-se e se farte!—mas não lhe der as coisas necessárias para o corpo e para a vida, que proveito virá desse tipo de fé que fala e nada faz?
Esta é a razão porque a fé está morta em si mesma se não for vivificada pelo amor e para graça que realiza obras de real justiça.
A fé sem obras é em si mesma morta!
Mas há aquele que diz: Você tem a fé, e eu tenho as obras!
Eu, Tiago, no entanto, demando dessa pessoa que me mostre essa fé sem boas obras, porque eu mostrarei a tal pessoa a minha fé pelas minhas obras.
Fé e obras não se separam nunca!
Se você crê que há um só Deus, faz muito bem. Também os demônios crêem e estremecem diante dessa certeza. Dessa maneira até o diabo crê!!!
Você ainda deseja saber por que a fé sem as obras é morta?
Se a fé sem obras salvasse alguém até todos os demônios estariam salvos!
Para quem conhece e crê no Deus de Abraão, tenho uma pergunta:
Porventura o nosso pai Abraão não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque?
A fé motivou a obra, mas foi pela ação que a fé se consumou como realizada.
Assim, cumpriu-se a Escritura, que diz:
E creu Abraão em Deus, e sua fé foi a ele atribuída pelo próprio Deus como justiça. Por isto Abraão foi chamado o amigo de Deus.
Vejam então que o homem é justificado pelas ações que indicam fé, e não pela fé que não produz ações de graça, justiça e bondade. Pois a fé que não se manifesta em obras está tão morta quanto qualquer coisa que não se mova porque não tem vida.
Tomemos agora Raabe, a meretriz, como exemplo do que estamos falando. Não foi ela também justificada pelas obras que decorreram da obediência em fé? E não foi exatamente isto que aconteceu quando ela acolheu os emissários de Josué, e os despediu secretamente por outro caminho?
Não há o que discutir: assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta!
Meus irmãos, muitos de vocês se julgam mestres e gostariam de ser professores de sabedoria, sem saber que os que se consideram entendidos, são justamente os receberão juízo mais rigoroso.
Digo isto porque todos tropeçamos em muitas coisas.
Mestres falam, e tropeçam muito no próprio falar.
Daí o homem sábio aprender a ser tardio para falar.
A paciência do silencio exime o sábio de expressar a insensatez de sua própria ignorância, e salva-o da pressa em seu coração, livrando-o desse modo dos falsos e momentâneos julgamentos de aparências, ou mesmo de suas próprias emoções exacerbadas.
Se alguém não tropeça no falar pode-se dizer que essa pessoa é perfeita, e, portanto, pode-se ainda afirmar que ela deve ser poderosa para refrear completamente a si mesma em tudo o mais.
Portanto, pode-se até não abrir a boca, mas se está sempre dizendo alguma coisa. A vida fala com a língua dos gestos. Portanto, são pequeninas coisas que fazem toda a diferença.
A língua é uma dessas coisas!
Por exemplo, nós pomos freio nas bocas dos cavalos, para que nos obedeçam; e conseguimos dirigir o animal para onde bem desejamos.
Vejam também os navios, que mesmo sendo muito grandes, são levados através de ventos e tempestades através de um pequeno leme conforme a vontade e a decisão do timoneiro.
Assim, coisas muito pequenas podem dirigir e alterar grandemente os destinos.
A língua é uma dessas pequeninas coisas que carregam imenso poder.
Trata-se de um órgão mínimo, mas que se gloria de grandes coisas!
Vejam como uma imensa floresta pode ser completamente destruída por uma queimada que começa com uma pequena brasa!
A língua é também como um fogo!
De fato, é um mundo carregado com incontrolável potencial de iniqüidade!
A língua faz parte de nosso corpo, mas parece independente de nós. Daí possuir a capacidade de fazer mal a todo o nosso ser.
Sim, a língua tem o poder de causar grandes incêndios, destruindo boas coisas em nós e em outros, coisas essas que nos foram dadas graciosamente como bens da vida.
A língua é assim tão inflamável porque ela carrega em si o fogo do inferno.
Nada há mais fora de controle em toda a natureza que a língua de um homem!
Digo isto porque em toda a natureza, tanto as bestas feras do campo como as aves dos céus, tanto os répteis como animais do mar, têm sido amansados e domados pelo gênero humano.
Mas nenhum homem consegue domar sua própria língua!
A língua é um mal que não se pode refrear; está cheia de veneno mortal!
O desgoverno da língua é total.
Com ela bendizemos a Deus e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus.
Assim, que estranha coisa é esta?!
De uma mesma boca procede bênção e maldição!?
Meus irmãos, não convém que isto seja assim.
Porventura é para alguém conveniente ir todos os dias a uma fonte de um mesmo manancial, sem nunca poder saber se a água que dele colherá será doce ou será água amargosa?
Se a fonte é a mesma e o manancial o mesmo, a água precisa ser a mesma também. Do contrário, irmãos, melhor seria que a figueira produzisse azeitonas, ou que a videira passasse a dar figos?!
Se não gostamos que em nosso mundo natural uma fonte dê tanto água salgada e como também água doce!—como então consentimos tão acomodadamente que nosso ser se expresse sempre de maneira indefinida e contraditória?
E é a nossa língua que expressa essa nossa capacidade de viver o bem e o mal como se ambos fossem a mesma coisa ou não tivessem conseqüências na vida!
Há entre vocês aqueles que se julgam sábios e entendidos?
Se há, recomendo que aqueles que assim se entendem, manifestem a sabedoria não em palavras apenas, mas também como expressão de bom trato com as pessoas, sempre mostrando a sabedoria como manifestação de mansidão e delicadeza.
Quem não sabe que é assim, não tem como afirmar que de fato saiba qualquer coisa.
O fato de existirem em nossos corações sentimentos de inveja amargada e de competição por poder, deveria também fazer com que nos tornássemos sinceros pelo menos quanto a quem somos—não nos gloriando e nem mentindo contra a verdade!
Essa sabedoria que dá permissão para você indefinir as fontes de seu ser, não vem de Deus. Ao contrário, a sabedoria que dá permissão para a fonte do ser não escolher nunca quem é—se doce, salgado ou amargoso—, não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica.
Isto porque, tal estado de ser, paralisa o individuo no circulo infinito das pequeninas coisas, e decora o interior da pessoa com as mobílias da inveja e do espírito de maldosa cobiça pelo poder.
Ficar nesse estado de existência, é como escolher viver numa casa onde só há perturbação e toda sorte de obra perversa.
Outra vez, repito: Deus a ninguém tenta!
Por isto, a sabedoria que vem Dele é pura, pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia.
Crer e viver assim, fará que vocês sejam como a árvore que entrega à vida os frutos que promete.
Ora, o fruto da justiça semeia-se na paz enquanto se promove a paz!
Justiça e paz são um só fruto, pois procedem de uma só e mesma fonte, nascem de um só manancial, são a mesma água, e produzem a mesma qualidade de vida.
Para quem ainda não se convenceu de que o problema humano é a indefinição do próprio ser em relação a que fonte de vida ele deseja que seja aquela que o alimente, eu pergunto:
De onde vêm as guerras e disputas que acontecem o tempo todo no meio de vocês?
Porventura vocês não sabem que elas não nascem longe dos lugares do próprio coração?!
Não sabem vocês que elas não vêm de fora de vocês, mas antes procedem do interior de cada um de vocês?!
Sim, as guerras procedem dos desejos básicos do que há de mais animal em nós, que são desejos e instintos que lutam em nossa própria carne!
Irmãos meus, entregar-se a tal estado paralisa a alma no mesmo nível dos animais.
O que é ainda pior, pois os animais necessitam, mas nós cobiçamos e nada temos. Eles comem para viver, nós, porém, matamos por matar, e fazemos isto de muitas maneiras. Os animais têm instintos, nós temos na inveja um sentimento muito pior do que qualquer instinto animal.
Assim, cada um faz sua própria guerra. E a guerra de cada um nasce dos desejos que nunca se deixam satisfazer, e da inveja que milita na nossa essência.
Ora, é a inveja que estabelece como autodecreto que o invejoso jamais alcance aquilo pelo que guerreia.
Por isto é que combatemos e guerreamos e nunca nada temos.
E também não temos nada porque a inveja e os prazeres que guerreiam em nossa carne, não nos conduzem à fé que singelamente pede o cuidado de Deus.
Por isto é que mesmo quando pedimos, ainda assim pedimos mal, porque a intenção da oração é completamente egocêntrica.
É isto que somos.
Sim!
Somos adúlteros e adúlteras!
Nossa infidelidade para com nossa própria natureza essencial nos faz adúlteros e adúlteras—somos traidores até de nós mesmos.
Além disso, não é segredo para ninguém que há uma incompatibilidade total em se dizer que se ama a Deus e, ao mesmo tempo, também afirmar que se ama o modo como o mundo é.
E tudo começa em nós.
Na nossa própria autotraição.
A amizade do mundo é inimizade contra Deus!
Portanto, quem que deseje ser amigo da sabedoria deste mundo—que é animal e diabólica—, põe a si mesmo em dês-comunhão com a vontade do bem de Deus para a pessoa humana.
Deus se sente traído por nós.
Ou vocês acham que é uma força de expressão da Escritura dizer que o Espírito que em nós habita tem ciúmes de nós?
A sabedoria de Deus nos leva à consciência de nossa própria perdição e não há esconderijo para ela em nenhuma humana sabedoria.
Estamos diante do Deus de toda graça.
Neste lugar interior feito de fé e consciência, Deus derrama mais graça ainda.
Assim, Ele nos diz que resiste aos soberbos e arrogantes, enquanto derrama abundante graça sobre os humildes.
Sendo assim, sujeite-se o homem a Deus, e o diabo fugira dele.
Esta é a confiança: chegue-se a Deus, e Ele se chegará a você!
Ora, sabendo que você é pecador, limpe suas próprias ações, e combata em si mesmo o ânimo inconstante, pois tal inconsistência acaba por poluir completamente o próprio coração.
Além disso, não se deve nunca fugir de encarar a própria realidade de quem somos, mesmo que isto nos leve a converter gargalhadas superficiais e choros profundos.
Todo o ser que se aproxima de Deus com sincera gravidade será por Ele exaltado!
Irmãos, agora que vocês já sabem acerca dos infernais poderes da língua—sua capacidade de destruir ao próximo e a nós mesmos—, eu peço a você que para sempre me levem a sério nisto: não falem mal uns dos outros!
Pois, como já vimos, quem fala mal de um irmão, e julga a seu irmão, fala mal da lei, e julga a lei; e, se alguém julgas a lei, já não é observador da lei, mas juiz dela.
Ora, todos nós sabemos que há só um Legislador que pode salvar e destruir.
Você, no entanto, quem é para que se atreva a julgar um outro ser humano?
Ainda sobre as precipitações no falar, devo lhes dizer que isto pode nos levar a lugares muito perigosos.
Lugares interiores de soberba, presunção e jactância.
Há alguns que dizem: Hoje, ou amanhã, iremos a tal cidade, e lá passaremos um ano, e faremos grandes negócios e ganharemos muito dinheiro!
A esses eu digo:
Vocês nem sabem o que vai acontecer com o nascer do próximo sol!
Sim, eu pergunto: qual a resistência e garantia que a vida de vocês possui?
É um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece…
Ao contrário, a sabedoria manda que se fale do modo como se sabe ser a vida. Por isto, em lugar de alguém dizer que fará e acontecerá, deveria antes afirmar: Se o Senhor quiser, e se vivermos, faremos isto ou aquilo!
Ao invés disso, o que se vê é gente achando que a fé em Deus lhes dá o direito a que se gloriem em suas próprias presunções.
Eu, porém, digo que toda a glória humana que seja tal como esta é maligna.
Portanto, meus irmãos, não há desculpas a dar, pois todo aquele que sabe fazer o bem e não faz, está pecando.
As provações nos conduzem à purificação dos valores da consciência e realizam em nós o bem da perseverança que se sustenta em fé, e que não negligencia a prática das boas obras.
Mas há os que passam sem tribulações pela vida e julgam que na ausência de problemas está o certificado de que são seres especiais para Deus e para a vida.
Muitos homens ricos e poderosos acabam se sentindo assim, e, desse modo, tornam-se arrogantes e presunçosos.
A esses tais, digo eu enquanto há tempo:
Prestem toda atenção ricos e poderosos que não se enxergam, pois chegará a hora em que vocês choraram e se lamentarão… Misérias hão de vir!
As riquezas humanas estão apodrecidas, e as vestes da presunção já estão comidas de traça.
Tudo o que vocês chamam de “meu bem” não carrega o bem em si.
Até mesmo o ouro e a prata de vocês logo se enferrujam. Ora, esse estado de decadência caracterizado pelo “ferrugem”, em si mesmo já dá testemunho contra aquilo que vocês dizem ser precioso.
Tudo aquilo que o corpo ajunta como bem para a materialidade do corpo, o próprio fogo comerá. E tudo aquilo que o fogo pode consumir, não é tesouro que dure aos olhos de Deus.
Quem gasta sua vida desse modo é como quem entesoura riquezas para serem aproveitadas dentro de uma fornalha.
Enquanto isto, deve-se saber que aquilo que uns guardam para o fogo, é justamente aquilo que alguns precisam para viver.
Assim, o salário do homem pobre e explorado por aqueles que julgam que riquezas duram para sempre—sim, o salário desses…—, carrega um clamor diante de Deus.
Sim! O salário dos trabalhadores que ceifaram as terras produtivas—salário esse que foi retido com fraude, mesquinharia e engano—, clama os clamores dos que trabalharam e não receberam, afadigaram-se e não foram compensados—e o clamor deles chega aos ouvidos do Senhor dos Senhores!
Deus está vendo!
Ele vê como muitos são indiferentes ao clamor dos necessitados e aflitos. Pois são capazes de se deleitar em delícias de prazer e engordar o coração com os alimentos da vaidade, enquanto lá fora é dia de morte para os que proporcionaram tal abundancia.
Sim, por essa indiferença, condena-se e mata-se o homem bom e honesto, e ele nem tem como se defender ou resistir.
Assim é o mundo!
Lutemos contra todo o mal que nele há e façamos isto com boas obras de amor e misericórdia. Mas nossa esperança está na volta de nosso Senhor.
Por isto, meus amados irmãos, sejam pacientes até à vinda do Senhor.
Assim também é a vida!
Ou não é desse modo que o lavrador espera o precioso fruto da terra, aguardando-o com paciência, até que receba a chuva temporã e serôdia?
Nossa salvação vem dos céus!
Portanto, mesmo em meio a tantas provações, sejam pacientes e fortaleçam os seus próprios corações, porque a vinda do Senhor está próxima.
Assim, repito outra vez:
Não se queixem uns contra os outros, para que vocês não sejam condenados.
Não esqueçam: o Único juiz está à porta!
E voltando ao nosso tema inicial, desejo relembrar a vocês que os profetas que falaram em nome de Nosso Senhor, são também exemplo para nós, de como perseverar em meio à aflição, fazendo isto com toda paciência.
Eis a razão porque eu tenho por bem-aventurados os que sofreram sem perder a fé e a confiança no amor de Deus.
Jô é o melhor exemplo disso. Todos vocês lembram do quanto ele sofreu sem saber a razão, mas manteve a confiança no amor de Deus. E não esqueçam nunca de como terminou a história dele, porque o Senhor é misericordioso e cheio de graça.
Sendo a vida tão fora de nosso próprio controle, eu, sobretudo, digo a vocês: não jurem, nem pelo céu, nem pela terra, nem façam qualquer outro juramento; mas que seja a palavra de vocês sempre sim, quando for sim que vocês queiram dizer; e não, quando for não aquilo que vocês estiverem afirmando.
Isto fará com que nunca haja condenação contra vocês.
Começamos falando de perseverança nas tribulações da vida. Agora, todavia, eu pergunto:
Está algum de vocês vivendo agora mesmo em aflição?
Se for este o caso, ore ao Senhor e confie a ele a sua ansiedade.
Está alguém contente?
Se assim é, então seja correspondente ao seu sentimento de alegria e cante louvores a Deus.
Está alguém doente?
Se estiver, então chame os homens e mulheres de Deus que o assistem espiritualmente, e peça que orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor. Assim, a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, esses pecados também serão perdoados, pois, tal gesto revela fé e confiança na graça de Deus.
Assim, confessem suas culpas e pecados uns aos outros, e orem uns pelos outros, pois o exercício dessa fé em amor carrega em si a graça da cura.
A oração sincera e singela de um ser humano confiante no amor de Deus sempre obterá resultados que estão para além do imaginável.
Para que tenhamos confirmação disto, basta que lembremos de Elias, o profeta.
Ora, Elias era homem como qualquer um de nós, sujeito às mesmas paixões que nós. Todavia, orou e pediu que não chovesse e, por três anos e seis meses, não choveu sobre a terra. E orou outra vez, e o céu deu chuva, e a terra produziu o seu fruto.
Esta é a Palavra da verdade!
Se alguém entre vocês se tem desviado da verdade, e algum irmão o converter à sensatez e à confiança na graça de Deus,
saiba esse irmão que aquele que ajudar alguém a deixar seu erro, salvará da morte um ser humano, e ainda cobrirá uma multidão de pecados.
A graça de Deus cobre pecados.
Amém!