Tô cansada antes de ter começado

—–Original Message—– From: Tô cansada antes de ter começado Sent: domingo, 7 de setembro de 2003 To: [email protected] Subject: Cansadíssima… Mensagem: Pastor Caio: Nos últimos tempos tenho lido muitas de suas reflexões, buscando algo que nem eu sei o que é… Tenho estado como Elias, buscando ouvir Deus na tempestade, no silêncio, na chuva, na folha, na internet… Parece que nada do eu faço adianta… Tenho 28 anos, sou formada, e hoje sou professora. Aceitei Jesus em 98, e desde então tenho vivido altos e baixos espirituais. No ano passado fui para uma Missão, e fiz o curso de Treinamento e Discipulado. Fui muito mais convencida por minha pastora do que por vontade própria. Minha vontade sempre foi trabalhar, ganhar meu dinheiro e ser bem sucedida (quem não quer?). Mas todo sonho que construí nunca se tornou realidade, pois passei mais de dois anos orando e chorando para Deus que realizasse meu sonho, e nada. Até porque, como meu pai saiu de casa, eu precisava trabalhar. Mas nada…, fiz mil e uma entrevistas… Até que fui para a Missão. Foi um tempo bom, onde pude ser ministrada em várias áreas. Assim que saí de lá, a única coisa que eu queria era distância de igreja, de compromisso… Não agüentava ter que ir a igreja. Me entenda, não era Deus o meu problema, mas o cristianismo em si. Eu cansei! A impressão que tenho é que o cristianismo virou um fardo. E ainda estou me sentindo assim, cansada de tudo. Sei que não tenho para onde ir; afinal só Ele tem as Palavras de Vida Eterna. Mas parece que nada do que sonho é bom… Assim que o curso acabou conheci um rapaz, e começamos a namorar, sempre sonhando em ter uma família… Apesar de ter 28 anos nunca havia tido um namorado de verdade, só “ficava”. Resumindo, sonhamos juntos, até que um dia ele achou que não dava… Eu não sei o que pensar, mas o que eu sinto é isso: que meus sonhos nunca estão de acordo com os de Deus. É como se tudo o que é simples, como trabalhar e ter uma família, fossem as coisas mais difíceis pra mim. Eu só quero ser feliz!! É claro que eu não posso blasfemar, dizendo que Deus nunca me respondeu; pelo contrário, sei que se não fosse a Sua misericórdia, eu teria morrido no “mundo”. Será que existe alguma explicação para tudo isso? Eu nem comecei a fazer algo para Deus, e já estou cansada? Se puder me responda, Deus abencoe ************************** Resposta: Minha querida: Descanso para você! Quem disse que você tem que fazer alguma coisa para Deus? Deus quer você bem. O “cristianismo” é que quer você ocupada com a agenda. E a “igreja”—dependendo de qual seja—está se especializando em fazer de toda alma faminta de Deus uma alma operária. Como a ênfase atual—que em alguns casos já um caso de “neurose” pastoral—é crescimento numérico da “igreja”, muitos dos crentes estão assim como você: cansados antes de trem começado! Honestamente, quem criou todas as coisas não está precisando de ajuda. Alias, deu-se ao direito de descansar no Sétimo dia. Ele tem Seus meios de fazer a Sua obra sem adoecer Seus filhos. Por isso Ele deu dons a cada um. E o exercício do dom dado por Deus, não é irritação, é prazer. Se fossemos “eleger” uma mulher que “escolheu a melhor parte da vida”, não teríamos que escolher. Jesus já escolheu por nós. É a Maria, a calma irmã de Marta, a agitada, e de Lazaro, aquele amigo de Jesus que não tinha lá uma saúde física das melhores (Lc 10). E que boa parte era essa? Era ficar serena, aprendendo aos pés de Jesus a sabedoria do Evangelho. O problema é que neste mundo caído alguém tem que cozinhar, arrumar a casa e ter um mínimo de preocupação com as coisas básicas da existência. Então, tem-se que ter a serenidade dos valores e importâncias de Maria, sem a executividade neurótica de Marta. O nome dessa “síntese” é eficiência. Quem consegue essa síntese funciona bem, se estressa menos, e não perde a melhor parte, mas também não deixa de realizar as coisas necessárias à existência. A saúde não está nem em Maria e nem em Marta. A saúde está em Jesus, que descansava, que vivia para a melhor parte, porém dizia: Meu Pai trabalha até agora, por isso eu trabalho também. Jesus não era estressado! Você me parece estar sofrendo de duas tiranias. A tirania de Maria sobre Marta. Ou seja: de sua pastora, que ama a melhor parte, porém a vê como “serviço missionário”, e que deseja que essa seja a sua agenda. A tirania de Marta sobre Maria. Que no seu caso parece ser a tirania de suas próprias idealizações acerca do que seja um “script de felicidade e sucesso” a ser alcançado e realizado por você. Então, aí está você: apaixonada por Jesus e cansada do “cristianismo”; e dizendo: “ainda nem comecei a trabalhar para Deus e já estou cansada”. Minha querida, para aqueles que trabalham para Deus e com Deus, basta-lhes a recompensa de um dia o haverem conhecido. E para aqueles que conheceram a Deus, basta-lhes a alegria de andarem com Ele pelo Caminho, e, então, a vida não será um trabalho, mas uma sucessão de oportunidades e encontros, onde a Graça flui sem hora marcada e sem neurótica agenda missionária a ser cumprida. Não adianta você ficar aí onde está. Nesse limbo de irrealizações. Sem o desejo de ser “missionária”—e diga-se de passagem: sem chamado para isso é uma das piores formas de opressão para a vida—, e sem o ânimo para correr atrás de seus sonhos e desejos. É um direito seu fazer o que você gostaria de fazer. Não existe vida “secular” e “vida sacra”. Existe apenas vida. E, em Cristo, tanto faz cortar cebolas em restaurantes ou subir em púlpitos para pregar. O importante é apenas uma coisas: Tudo o que fizerdes, seja em palavras, seja em ações, fazei-o em nome de Jesus, e dando Graças ao nosso Deus e Pai! Tudo é vosso, e vós de Cristo, e Cristo de Deus—disse Paulo. O problema é que a gente é ensinado que “consagração” resolve problemas. Mas tais problemas só serão resolvidos se a gente se levantar e for tratar deles com objetividade—se esse for o nosso interesse: resolvê-los ou realizá-los. Se o Senhor não edificar a cidade, em vão trabalham os que a edificam. Mas se os que deveriam edificar resolverem não fazer nada, e , ao invés, fazerem uma reunião de oração, poder-se-á esperar até que aconteça uma outra construção, de natureza interior, mas o muro da cidade ficará esperando que você termine as orações e ponha a mão na massa. Nem só de pão vive o homem, mas de toda Palavra que procede da boca de Deus. Mas também de pão vive o homem, por isso a Palavra de Deus nos manda orar pedindo o “pão nosso de cada dia”. E ordena que se trabalhe a fim de ter para si mesmo e também para socorrer o necessitado. Você tem apenas que verificar se “seus sonhos” são reais ou se são idealizações de outros para você. A gente cumpre muitos scripts alheios, e nem fica sabendo. A gente sofre por irrealizações que, na pratica, não são nossas, mas a gente pensa que são, apenas porque “compramos o papel daquele filme”, e agora temos que partir para a “produção e filmagem das cenas”. Vejo muita gente sofrendo, orando, lutando com Deus, brigando com os céus, gemendo de dor, etc…tudo por coisas que não lhes dizem respeito, mas que lhes foram impostas por alguém. Na igreja isso acontece com extrema freqüência. Às vezes converso com gente muito boa, mas que despendeu metade da vida cumprindo um papel que não queria, especialmente para atender a demandas e expectativas de outros. Minha sugestão a você é simples. Pare de chorar e de sofrer com sonhos. Viva o dia de hoje. Se você tem sonhos, faça planos, levante-se e tente realizá-los. Mas não fique obcecada com tais coisas. Certos sonhos só se realizam muito tempo depois. Enquanto isto a gente tem que pegar as oportunidades que aparecem, e as viver com gratidão. Pode ser que se você se distrair “o acaso” venha a lhe proteger, conforme a música. Ou seja: o “acaso” não á o nada, é apenas uma maneira de dizer que o sonho não transformado em neurose realizadora vai acabar achando você. Pessoalmente gosto de andar sem muitas certezas. Vou fazendo o que amo e dou ao que amo um mínimo de objetividade—do contrário eu perco o foco e me enrolo nas fiações e fiapos de milhares de “agendinhas” de outros, e que acabam roubando muito energia de mim. Sobre casar, ter filhos, e tudo o mais, fique fria. Mulher querendo casar, em geral, casa mal, casa errado, pois não casa com alguém, mas com a idealização do casamento. E olhe: casamento não deve ser idealizado. Deve ser realizado. E realizado com a consciência de quem “realiza”—no sentido de realizar em inglês—com a certeza de que a realização mergulhará a pessoa não num mundo de facilidades, porém de profundas e inescapáveis realidades. Nada é mais esmagadoramente realista que a experiência do casamento. Quem não quiser conhecer a realidade, não se case. E quem não quiser ser esmagado pela realidade, não tenha filhos. Portanto, casar não deve ser um sonho. Deve ser uma decisão consciente. Por último, quero dizer que Deus é Deus. Ele não é o “gênio da lâmpada de Aladim”. Não há três desejos a serem realizados. Na minha Bíblia não existe essa promessa. E nada é fácil. No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo—disse Jesus. O que passar disso não é a fé em Jesus. É consagração ao “gênio da Lâmpada”. Não fique “grilada” com seu cansaço com o “cristianismo”. O “cristianismo” cansa mesmo. Negar isso ;é mentir contra os fatos. Por isso, congregue-se em paz, mas não se deixe obrigar a nada. Na verdadeira Igreja em inglês Jesus diz: I am the way. Note: Ele não diz: Amway—aquela empresa de vendas em sistema de pirâmide em que o cara tem que sair obcecado pelo mundo a fim de aumentar a pirâmide. Então, descanse Naquele que diz: I am the way. Nesse caminho há paz! Um beijão, Caio