TOTEM E TABU

 

 

 

 

 

 

 

—– Original Message —–

From: TOTEM E TABU

To: [email protected]  

Sent: Friday, May 09, 2008 3:20 PM

Subject: Esclarecimentos do Totem e Tabu de Freud!

 

 

 

 

Graça e paz, meu amigo (se assim posso lhe chamar) e pastor Caio Fábio!

 

 

Foi um prazer estar em santos dia 12/04, onde fui especialmente para ouvir um porta-voz do Evangelho, sem manipulações por pulsões terceirizadas, nem distúrbios circenses, mas sim, sem barganhas a fazer.

 

Foi muito bom, a Palavra falou forte no meu coração – ela sempre fala forte e suave! Depois fui pedir que assinasse o livro que comprei, e me identifiquei ao senhor – até que de uma forma estranha… rsrsrs.  

 

E disse que o escreveria sobre o Tema Totem e Tabu.

 

Eu tenho acompanhado seu ministério e sua vida há alguns anos já. Admiro tudo o que lhe aconteceu, e a forma com que atravessou o vale da sombra da morte, não temendo mal algum, pois a vara e o cajado de Deus estavam contigo consolando-o!

 

 

Pastor, o que gostaria de perguntar sobre o referido tema, é o seguinte:

 

 

No livro Enigma da Graça, o senhor diz que os amigos de Jó o tinham como um Totem. No sentido de que eles projetaram sobre Jó as expectativas que eles tinham em si mesmos, porém irrealizáveis neles.  Nessa projeção, Jó passa a ser encarado como o representante moral e ético da presente comunidade, o porta-voz da sabedoria, e o irrepreensível. Porém, sofrendo o que Jó sofrera, Jó já não era o que eles pensavam ser, e dessa projeção inconsciente – o totem – como em uma parte do livro de Freud, Jó já não os servia mais, logo, teria que ser sacrificado. Em Jó, isso se deu como a aceitação de seu pecado, para justificar a presente calamidade que o acometera. As transferências de responsabilidades, e do conceito psico-coletivo do homem de sempre projetar nos outros o que em si não se tem coragem de assumir. Elevando alguém ao nível de um totem, sendo este o porta-voz, e representante ético-moral deles, quando este não lhes é mais útil, sempre acabam sendo sacrificados.

 

É neste sentido que o senhor usou este tema – totem – em Jó? E para com o senhor também? Pois em algumas cartas que o senhor escreveu, contidas no site, o senhor diz que os “evangélicos” o viam como um totem.

 

 

Sigmund Freud, em seu livro, fala da transferência psíquica das relações do homem com um animal totem. Fala do Tabu existente para com as conseqüências que se seguem dos povos quando guerreiam, e matam seus inimigos, e depois encontram uma série de observâncias a se realizar para poder voltar a viver ao convívio social. Depois ele fala do totemismo infantil. O livro – para um leigo como eu – ficou um pouco complexo demais. Por isso gostaria de entender a aplicação que o senhor fez, do referido ensaio de Freud, para com Jó, e com o senhor, durante os anos de sua caminhada com a “igreja”.

 

 

Eu li também em suas cartas, sobre um livro de Jung, que fala do psiquismo coletivo. Interessei-me em ler, o senhor pode me passar o nome do livro?

 

 

Na esperança da resposta, obrigado!

 

Obrigado pelo carinho expressado no abraço em santos. Sou uma ovelha, que ama comer das pastagens oferecidas pelo senhor, pastagens estas que alimentam a alma com o verdadeiro Evangelho, e com o aconchego da Graça de Deus.

 

Um grande beijo, e dê um abraço na Adriana por mim – eu conversei com ela em Santos, e a percebi muito amável e carinhosa.

 

 

Na Graça Daquele, que nos fez livres de qualquer transferência psíquicas para sermos nós mesmos Nele!

 

 

Juliano

 

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Resposta:

 

 

 

Meu mano Juliano: Graça e Paz!

 

 

 

Sim! Você entendeu o que eu disse no Enigma da Graça e também nas Cartas do site, assim como entendeu o suficiente do que Freud escreveu sobre o tema Totem e Tabu.

 

Nem sempre quem “Projeta”, “Transfere”. E nem sempre quem “Transfere”, “Projeta”. No entanto, na criação psico-coletiva de um fenômeno totêmico, “Transferência e Projeção” se fundem, e não podem ser separados.

 

Existe a “Projeção” que é apenas transferência de imagem e representação. Mas há aquela “Projeção” que implica em “Transferência” de responsabilidade de ser das pessoas para o totem.

 

Ora, é nesse ponto que a totemização se sofistica, deixando de ser primitiva como nas ilustrações provenientes do livro de Freud, e entra no ambiente sutil da tribo piedosa, seja no caso de Jó e seus amigos, ou, seja como nas Cartas faço alusão ao “meu caso” de totemização no passado.

 

Em todo processo de totemização há, entretanto, tanto a presença do infantilismo do individuo não indiviaduado psicologicamente, como também do elemento de síntese entre amor e ódio — amor pela beleza da representação como projeção nossa no outro [de modo que o outro é “nós”- um “gadareno”, uma legião do belo e orgulhoso]; e ódio pela nossa admiração invejosa e homicida.

 

Ora, a melhor ilustração psicológica deste fenômeno nos vem de nossa relação “natural” com a morte. Todos dizem teme-la e odiá-la. No entanto, a própria fobia da morte nos remete ávidos para ela como sedutora de nossa vontade, assim como foi no princípio, quando o homem comeu com gosto justamente aquilo que ele sabia que era morte.

 

O maior “tesão psicológico” de um ser humano está sempre naquele que ele confessa como sendo o seu pior inimigo!

 

É como no livro “O Perfume”, quando o aroma irresistível é também o poder que deflagra nos seduzidos o desejo de comer o objeto do desejo até que ele morra.

 

No link http://www.caiofabio.com/novo/caiofabio/pagina_conteudo.asp?CodigoPagina=0230300007

você encontrará bases mais claras para o que estou dizendo no que diz respeito a mim mesmo como parte desse fenômeno.

 

No entanto, o que eu fiz, eu fiz; e o que eles fizeram, eles fizeram. E nada há além disto. Com uma diferença. O que fiz, não o fiz contra eles. Mas o que eles fizeram, o fizeram contra mim. É aí que se estabelece o fenômeno como projeção e transferência simultaneamente, pois só foi assim porque a admiração se converteu em ódio em razão de que se sentiram traídos de modo psicologicamente visceral.

 

Mesmo tendo usado em algum lugar acima a palavra amor, no entanto, em tais processos não há amor, mas apenas admiração, que é um estado piedoso do infantilismo. No amor há amor, não admiração. Eu não admiro a Jesus. Eu amo Jesus. Ad-miração é sempre um olhar de fora e que elege a miragem como expressão de nós mesmos, pelo simples fato de a reconhecermos como bela. O amor, todavia, não vive de imagem, mas do que é, e isso mesmo que seja apesar de tudo.

 

Todos esses elementos de totemização ou de produção de tabus, têm a ver com a falta de gratidão a Deus pelo que se é. E mais: é fruto da falta de responsabilidade pessoal para com a vida.

 

Quem é grato a Deus por ser quem é e também se sente responsável por suas próprias decisões, esse anda amando, mas não babando, e, menos ainda, escandalizando-se; pois, aquele que se escandaliza tanto é ainda menino, como também é ainda um ser que não ama; posto que todo aquele que ama não se escandaliza.

 

O amor cobre multidão de pecados!

 

Por esta mesma razão o amor não tem totens. A admiração infantil ou invejosa, todavia, só sabe existir se tiver totens, e, ao mesmo tempo, totens que possam virar tabus.

 

Só há Um que pôde receber todas as Projeções e transferências, sem que isto tenha sido mal — que é Jesus, que levou sobre Si mesmo e chamou a responsabilidade para Ele mesmo, de tudo aquilo que eu projeto e transfiro para outros, e, por vezes, com raiva, até para Deus.

 

Em Jesus o processo é diferente. Ele atraiu para Si mesmo todos os pecados! Ele também representa a todos nós diante do Pai.

 

Ora, fora de Jesus todo esse processo é paganismo e gera ódio e morte!

 

Receba meu abraço!

 

 

 

Nele, em Quem fui absorvido,

 

 

 

Caio

 

12/05/08

Lago Norte

Brasília

DF

Ps: Sobre O Inconsciente Coletivo e Jung, entre na Net e veja num Google da vida e você achará tudo o que desejar.