TROCO CARINHO POR SEXO SÓ PRA OUVIR QUE SOU GOSTOSA



 

Senhor traz à minha memória tudo o que preciso escrever, para que realmente possa ser ajudada.


Caio,

Gostaria de me libertar de vez do julgamento humano. SEMPRE sofri muito por ser o que sou. Minha Mãe tentou me podar várias vezes, em algumas cedi; necessitava do amor dela. No dia de sua morte eu era a sua companhia. Hoje ainda choro, pois nada pude fazer.

Até quando iniciei uma oração no momento em que ela estava tendo um ataque cardíaco, ouvi uma voz me falar: “Não adianta… sua mãe está morta.” Senti naquela hora uma paz celestial. Deus me sustentava.

Minhas irmãs moram no interior, conosco estavam duas amigas, sendo uma amiga de infância. Meu pai já estava doente e se encontrava no hospital-residência. Eu e minhas irmãs nos preocupávamos muito com a saúde de mamãe. Tínhamos a certeza de que nosso pai logo morreria.Tinha muito medo da orfandade, como também da solidão; pois, apesar de casada não tinha marido.

Nessa época da minha vida nunca tinha lido a Bíblia. Meu pai se dizia espírita kardecista; apesar de não concordar com alguns pontos; e sempre duvidar de um livro psicografado, após a sua leitura.

Em Jesus Cristo todo mundo acredita. Com meu pai não foi diferente. E fomos ensinadas através do seu modo de viver, a sermos Cristãs.

Meu pai foi o grande amor da minha vida.

Na época que minha mãe faleceu eu tinha um amante. Me sentia carente e mesmo sem sentir orgasmo, e mesmo sentindo uma culpa enorme após os nossos encontros, sentia a necessidade de o ouvir dizendo o quão gostosa eu era.

A MINHA FICHA CAIU NO DIA DO FALECIMENTO DA MINHA MÃE. PERCEBI QUE EU NÃO TINHA PRA QUEM LIGAR.

Liguei para meu tio, que apesar de ser muito querido, não era ninguém que compartilhasse da minha intimidade. Não podia abraça-lo ou trocar qualquer carinho. Não me sentia livre para isso.

Meu pai era um homem que não nos acariciava nem nos beijava, apesar de ser presente em nossas vidas.

As carícias que recebi de homens sempre foram em troca de sexo. Não tive muitos parceiros, mas tive um sonho frustrado de me casar virgem. Com 16 anos perdi minha virgindade, por falta de controle meu e dele. Até há pouco tempo atrás só conseguia culpá-lo. Hoje vejo que não fui tão inocente assim; ou melhor: foi a única vez em que fui inocente, sem nada desejar a não ser aquele momento, aquela pessoa e aquele calor amoroso.

Tudo isso rapidamente se transformou em dor. Não consegui entender mais nada.

Logo volto a te escrever.

Com amor,



Resposta:

Minha querida amiga: Graça e Paz!


“Ainda que meu pai e minha mãe me abandonassem… o Senhor me acolheria”.


Você iniciou dizendo: “Gostaria de me libertar de vez do julgamento humano. SEMPRE sofri muito por ser o que sou.”

Por “julgamento humano” entendi: “Gostaria de não me preocupar com o que os outros pensam de mim”. O que me preocupou foi o “ato falho” de escrever “o que eu sou” ao invés de ser “quem eu sou”.

“O que eu sou” faz de você um “objeto”. “Quem eu sou” faz de você uma pessoa. E é justamente aí que está o nó: no sentimento de objetização que você sente acerca de você mesma.

“Meu pai foi o grande amor da minha vida”—foi o que você disse. E concluiu: “Meu pai era um homem que não nos acariciava nem nos beijava, apesar e ser presente em nossas vidas…” Ora, esse amor sem carícia e sem toque de afeto levou você a se dar por carícia em troca de sexo: “…sentia a necessidade de o ouvir dizendo o quão gostosa eu era…” Assim, você mesma conclui que as carícias que recebeu de homens “sempre foram em troca de sexo”.

Então vem outro “ato falho”. Fala de sua perda de virgindade, e diz: “Hoje vejo que não fui tão inocente assim”… Para, então, se corrigir, e afirmar: “…ou melhor: foi a única vez em que fui inocente, sem nada desejar a não ser aquele momento, aquela pessoa e aquele calor amoroso.”

Um pai que se fez amar, embora fosse distante e incapaz de carinhos; uma mãe que manipulava e você cedia…; e uma imensa vontade de ser amada com carinho; mas sempre se dando sexualmente em troca de carícia; e, assim, você confessa que a verdadeira inocência aconteceu quando você se deu sem “troca”, quando ‘perdeu’ a virgindade.

Sua constituição psicológica é bem lógica e simples de entender; e preenche todas as categorias clássicas de “análise” psicológica. Ou seja: a resposta de sua alma à vida e às circunstancias preenche o rito clássico de resposta da alma feminina à figura do pai.

Essa carência imensa de ter um amor que toque e seja carinhoso, combina com “meu pai era meu amor, mas não era carinhoso”.

Quando você disse que gostaria de ficar “livre do julgamento” das pessoas, você também estava dizendo que se tivesse coragem de romper com certos padrões que se cristalizaram e se fixaram em você como neurose, você sabe que faria progressos em você mesma; mas não tem coragem.

De fato, há uma panela de pressão a ser aberta com calma em sua alma; e lhe digo: ela precisa ser aberta antes que venha a explodir…

Sugiro que você entre aí “No Divã do Site” e que marque uma conversa. Julgo que seria bom a gente conversar on-line, pois, tenho várias questões a lhe apresentar, e aqui, nas Cartas, não seria o lugar e nem cumpriria o objetivo.

Fico aguardando.


Nele, que nos ensina a diferença entre o abraço de homens e o amor de Deus,


Caio