—–Mensagem original—–
De: TURISMO NA BAIXADA FLUMINENSE – venha!
Enviada em: quinta-feira, 28 de junho de 2007 18:18
Para: [email protected]
Assunto: TURISMO NA BAIXADA FLUMINENSE – venha!
Israel está firme. Os problemas na Faixa de Gaza não deverão nos atrapalhar em nada, na nossa viagem de novembro. Já estive lá em toda sorte de situação, e sei como é. Portanto, quem desejar confiar em meu bom senso, saiba: Jamais convidaria você para uma zona de perigo. Por isso não convido você para um passeio pela Baixada Fluminense. Portanto, faça logo sua inscrição, pois, na última hora, talvez já não dê. – Caio
Querido Caio,
Fico feliz que a caminhada tem alcançado caminhos a cada dia mais longos, com mais condições de atender e alcançar a muitos que necessitam serem confrontados com a Graça que liberta. E pela graça que liberta e nos liberta sim de todo o medo ou melindrices típicas daqueles que sorriem a sua frente e lhe xingam pelas costas, venho externar minha tristeza pela colocação do senhor não convidar ninguém para a zona de perigo chamada baixada fluminense.
A impressão é que quem nunca de fato empoeirou os pés nas ruas, ainda sem asfalto de alguns lugares dessa região, não conhece; e diria mais, não sabe o que está perdendo.
A violência aqui é, depois dos condomínios de alto luxo com seguranças por todos os lados, como em qualquer grande cidade deste país. Por ter nascido e viver aqui sei que é apenas uma questão de ambientação, por que quando estou na zona sul do Rio – e trabalho por lá todos os dias – tenho uma sensação de uma insegurança ainda maior.
Bem não quero entrar em conflito, apesar de achar que um dos panos de fundo da violência seja uma desigual luta de classes – acho que seria válida uma discussão proveitosa nesse sentido com alguém como o senhor que conheceu tão de perto a pobreza de Vigário Geral, por exemplo.
O fato é que seu comunicado e seu site atingem o país e o mundo inteiro e certamente a imagem que se fica é que se pisar aqui ta morto, na hora. Por isso eu convido. Convido sim, a todos que quiserem, inclusive ao senhor, vir dar uma passeada na baixada fluminense, tem tanta coisa e gente bonita quanto mazelas e tragédias também, entre as belas coisas estão as estações de Mesquita com mano Alexandre e a de Caxias com o mano Carlos – tenho carinho imenso aos dois apesar de não vê-los faz tempo – e muita gente necessitando ser vista com olhar misericordioso e não preconceituoso.
Um sincero e carinhoso beijo.
Josué Mendes
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Resposta:
Josué amado no Senhor: Graça e Paz!
Você disse que era para não ter melindres, e eu não os tenho; portanto, espero que você não as tenha.
Não sei a sua idade, mas você deve ser jovem; pois, meu mano, os meus pés não se apenas sujaram
Já fui ameaçado de morte dezenas de vezes: pela Polícia, por “Igrejas”, por “crentes”, por bandidos (o Uê botou um matador dentro de um tanque no Juramento para me matar, numa noite em que subi para orar no alto do monte); enfim, já fui ameaçado por gente de todo tipo.
E aí? Ora, nada! Não consigo ter medo, meu irmão. O perigo é para quem ameaça, pois, Grande é o meu Refúgio.
Entretanto, meu irmão, saiba: eu vou a qualquer lugar e se precisar de escolta, me fale. Mas não levo pessoas deliberadamente para zonas de perigo a fim de fazer Turismo. Levei muita gente pro perigo como voluntários conscientes, mas nunca pagando o roteiro como viagem de laser e ou cultura. Milhares subiram morros na noite do Rio comigo.
Certa ocasião levei duas mil pessoas à Rocinha (no auge das batalhas lá), bem como levei mais de 1000 pessoas ao Borel (no meio da guerra entre os grupos rivais). Mas quem foi, foi sabendo; e foi querendo; e foi exatamente em razão do que estava acontecendo…
Todavia, quem convida para um Turismo assume responsabilidades ante a proposta; e, eu, com toda responsabilidade, não convidaria um grupo para fazer Turismo no Rio, a menos que fossem pessoas preparadas para qualquer eventualidade.
E mais: nenhum desses cuidados seria por minha causa, mas exclusivamente em razão das pessoas que eu convidasse; pois, como lhe disse, não sinto medo. Meus medos têm Dono; e o Dono de meus medos os transformou em fé.
Não temo homens, nem anjos, nem demônios, nem diabo!
Quem confia no amor de Deus e anda no Seu temor, não teme nada disso; pois, já passou da morte para a vida.
Eu, todavia (como poucos neste país), lutei para mudar este quadro no Rio, dando minha cara para bater. E bateram. O Governador, o Prefeito, o Arcebispo do Rio, a Polícia, os políticos invejosos, os pastores de grupos evangélicos enganados, etc. Ou você não lembra?
Todavia, apesar deles e de todos, dei anos de minha vida. Entrei em todos os buracos e bibocas. Conversei com todos os bandidos, soltos e presos. Fiz-me freguês de Bangu I por três anos, duas vezes por semana. Entretanto, sem ofensa (até porque você é filho de uma geração que não sabe muito sobre essas minhas coisas…), não vejo saída para o Rio.
Ora, como disse, digo isso sem ofensa, sem melindres e sem nada além da sinceridade; assim como também digo que não vejo esperança para a Amazônia (se tudo continuar assim ela será savanizada) e para o mundo (pelas razões obvias).
E o que isso significa além do fato de que estou sendo responsável com a realidade?
Seria eu contra a Amazônia ou contra a Terra?
Assim, ou os perigos são os perigos, e o que se pode fazer é encará-los com atenção; ou, então, cai-se na irresponsabilidade e na irrealidade; o que é muito perigoso.
Ora, quando dei aqueles anos de minha vida ao Rio, ao desejo de ver a cidade curada, já o fiz como quem faz contra a própria realidade e o bom senso. Fiz como um grito final. Sim, como quem diz: “Vamos fazer. Mas só um milagre muda isso aqui!”.
Mas, assim mesmo fizemos muita coisa.
1. Fizemos a Fábrica de Esperança (que era o que de maior e mais significativo já se fez na América Latina num projeto do gênero);
2. Fizemos o Atitude & Solidariedade, que acabou com a população que mendigava nas ruas de Niterói; pois, em um ano, os mais de mil mendigos estavam em casa ou em abrigos; e bem alimentados.
3. Fizemos forte ação em todo o sistema presidiário, indo às bases, por anos; e respeitados por todas as facções.
4. Fizemos ações na Policia, com os policiais, de todas as policias.
5. Criamos um grupo de Corregedoria Cidadã, e que examinava os casos de chacina, o que gerou todo tipo de ameaça da Banda Podre. E como o Governo não tem como amparar tais pessoas, pois a própria policia ameaça, tive que levar esses ameaçados de morte para casa.
6. Trocamos os brinquedos-armas das crianças das comunidades carentes (mais de 100 mil brinquedos que não eram armas) e demos a eles brinquedos que não eram armas de brinquedo.
7. Recebemos das mãos dos líderes do trafico mais de 200 armas (até AR15), como sinal de boa vontade, visto que o Exercito Estava nas ruas (1994), e uma guerra sem precedentes se avizinhava.
8. Empreguei todos os apenados famosos que pude (ou arranjei emprego); para que, ao saírem, tivessem para onde ir; exemplo disso foi o Gregório, o Gordo.
9. Arranjei escola para os filhos dos “bandidos”; inclusive para os filhos do Escadinha e do Japonês.
10. Fui a todas as comunidades em perigo, as quais me chamavam por saberem que os bandidos soltos ou presos me respeitavam. Assim, quando havia crise, com Exercito ou não nas ruas, me chamavam; e eu ia de madrugada, por exemplo, à Vila Vintém, a fim de segurar o “Celsinho de Vila Vintém”, o qual, fugido, já havia matado dezenas de pessoas na comunidade; e dizia que só falaria comigo.
Assim, seria sem fim dizer o que fizemos…
Portanto, meus pés já andaram por lamas que você nem imagina.
Entretanto, concordo com você que para quem sai de bobeira, crendo que beleza é segurança, e que paisagem é proteção, a Zona Sul do Rio oferece mais perigos, até porque na Zona Norte ou na Baixada, quem sai não é turista, e, portanto, não sai de bobeira e nem dorme de toca.
Quanto aos amigos amados que você citou, e quanto às amadas Estações do Caminho nesses lugares; saiba: os amigos são muito amados; e as Estações estão aí e em qualquer outro lugar, não por qualquer outra coisa que não seja o testemunho da Palavra. Portanto, quanto pior, nesse sentido, melhor; pois, do contrário, melhor seria plantar uma Estação na porta da Disney.
Vejo essa campanha (Rio de Paz; que mais parece ser “Rio dos ra-Paz-es”) das cruzes brancas e pretas; ou das flores na frente do Copacabana Palace; e vejo o show de nada que tais atos geram. Não entram nos guetos, não encaram os bichos, fazem shows plásticos sem conseqüência maior do que a distração solidária oferecida pelo Jornal Nacional; e não saem da Zona Sul; e ainda acham que a solução é policialesca, de combate ao trafico feito por um policia bandida em boa parte de seu contingente. “Rio de Paz”, no que li num blog do dono da campanha, é um projeto fascista e “ariano”; pois, li o menino dizer que se teria que fazer algo grave, de natureza até mesmo letal, pois, só assim se poderia eliminar o problema. Ora, eu conheço o menino; e sei que é filho de policial e que não tem grandes convicções além de uma boa chance de aparecer. Digo isto porque criei o menino; e, depois, me assustei com o que vi.
Assim, receba meu esclarecimento dado com todo carinho e respeito!
Um beijo nos amigos das Estações; em todos eles.
Nele, que nos guarde em nossa entrada e em nossa saída, desde agora e para sempre,
Caio
29/06/07
Lago Norte
Brasília
Nele, em Quem está nossa vida, bem como nossos desejos e planos,
Caio
27/06/07
Lago Norte
Brasília