—– Original Message —–
From: ENTREVISTA COM MARCOLA: o Bin Laden brasileiro!
To: [email protected]
Sent: Monday, June 19, 2006 12:15 PM
Subject: Marcola, PCC e o Inferno de Dante!
Pr. Caio,
Faz sentido ?
Salomão
__________________________________________________________________
Marcola, PCC e o Inferno de Dante:
Estamos todos no inferno. Não há solução, pois não conhecemos nem o problema.
– Você é do PCC?
– Mais que isso, eu sou um sinal de novos tempos. Eu era pobre e invisível… vocês nunca me olharam durante décadas… E antigamente era mole resolver o problema da miséria… O diagnóstico era óbvio: migração rural, desnível de renda, poucas favelas, ralas periferias… A solução é que nunca vinha… Que fizeram? Nada. O governo federal alguma vez alocou uma verba para nós? Nós só aparecíamos nos desabamentos no morro ou nas músicas românticas sobre a “beleza dos morros ao amanhecer”, essas coisas…
Agora, estamos ricos com a multinacional do pó. E vocês estão morrendo de medo… Nós somos o início tardio de vossa consciência social… Viu? Sou culto… Leio Dante na prisão…
– Mas… a solução seria…
– Solução? Não há mais solução, cara… A própria idéia de “solução” já é um erro. Já olhou o tamanho das 560 favelas do Rio? Já andou de helicóptero por cima da periferia de São Paulo? Solução como? Só viria com muitos bilhões de dólares gastos organizadamente, com um governante de alto nível, uma imensa vontade política, crescimento econômico, revolução na educação, urbanização geral; e tudo teria de ser sob a batuta quase que de uma “tirania esclarecida”, que pulasse por cima da paralisia burocrática secular, que passasse por cima do Legislativo cúmplice (Ou você acha que os 287 sanguessugas vão agir? Se bobear, vão roubar até o PCC…) e do Judiciário, que impede punições. Teria de haver uma reforma radical do processo penal do país, teria de haver comunicação e inteligência entre polícias municipais, estaduais e federais (nós fazemos até conference call entre presídios…) E tudo isso custaria bilhões de dólares e implicaria numa mudança psicossocial profunda na estrutura política do país. Ou seja: é impossível. Não há solução.
– Você não têm medo de morrer?
– Vocês é que têm medo de morrer, eu não. Aliás, aqui na cadeia vocês não podem entrar e me matar… mas eu posso mandar matar vocês lá fora…. Nós somos homens-bomba. Na favela tem cem mil homens-bomba… Estamos no centro do Insolúvel, mesmo… Vocês no bem e eu no mal e, no meio, a fronteira da morte, a única fronteira. Já somos uma outra espécie, já somos outros bichos, diferentes de vocês. A morte para vocês é um drama cristão numa cama, no ataque do coração… A morte para nós é o presunto diário, desovado numa vala… Vocês intelectuais não falavam em luta de classes, em “seja marginal, seja herói”? Pois é: chegamos, somos nós! Ha, ha… Vocês nunca esperavam esses guerreiros do pó, né? Eu sou inteligente. Eu leio, li 3.000 livros e leio Dante… mas meus soldados todos são estranhas anomalias do desenvolvimento torto desse país. Não há mais proletários, ou infelizes ou explorados. Há uma terceira coisa crescendo aí fora, cultivado na lama, se educando no absoluto analfabetismo, se diplomando nas cadeias, como um monstro Alien escondido nas brechas da cidade. Já surgiu uma nova linguagem. Vocês não ouvem as gravações feitas “com autorização da Justiça”? Pois é. É outra língua. Estamos diante de uma espécie de pós-miséria. Isso. A pós-miséria gera uma nova cultura assassina, ajudada pela tecnologia, satélites, celulares, internet, armas modernas. É a merda com chips, com megabytes. Meus comandados são uma mutação da espécie social, são fungos de um grande erro sujo.
– O que mudou nas periferias?
– Grana. A gente hoje tem. Você acha que quem tem US$ 40 milhões como o Beira-Mar não manda? Com 40 milhões a prisão é um hotel, um escritório… Qual a polícia que vai queimar essa mina de ouro, tá ligado? Nós somos uma empresa moderna, rica. Se funcionário vacila, é despedido e jogado no “microondas”… ha, ha… Vocês são o Estado quebrado, dominado por incompetentes. Nós temos métodos ágeis de gestão. Vocês são lentos e burocráticos. Nós lutamos em terreno próprio. Vocês, em terra estranha. Nós não tememos a morte. Vocês morrem de medo. Nós somos bem armados. Vocês vão de três-oitão. Nós estamos no ataque. Vocês, na defesa. Vocês têm mania de humanismo. Nós somos cruéis, sem piedade. Vocês nos transformam em superstars do crime. Nós fazemos vocês de palhaços. Nós somos ajudados pela população das favelas, por medo ou por amor. Vocês são odiados. Vocês são regionais, provincianos. Nossas armas e produto vêm de fora, somos globais. Nós não esquecemos de vocês, são nossos fregueses. Vocês nos esquecem assim que passa o surto de violência.
– Mas o que devemos fazer?
– Vou dar um toque, mesmo contra mim. Peguem os barões do pó! Tem deputado, senador, tem generais, tem até ex-presidentes do Paraguai nas paradas de cocaína e armas. Mas quem vai fazer isso? O Exército? Com que grana? Não tem dinheiro nem para o rancho dos recrutas… O país está quebrado, sustentando um Estado morto a juros de 20% ao ano, e o Lula ainda aumenta os gastos públicos, empregando 40 mil picaretas. O Exército vai lutar contra o PCC e o CV? Estou lendo o Klausewitz, “Sobre a guerra”. Não há perspectiva de êxito… Nós somos formigas devoradoras, escondidas nas brechas… A gente já tem até foguete antitanques… Se bobear, vão rolar uns Stingers aí… Pra acabar com a gente, só jogando bomba atômica nas favelas… Aliás, a gente acaba arranjando também “umazinha”, daquelas bombas sujas mesmo…. Já pensou? Ipanema radioativa?
— Mas… não haveria solução?
– Vocês só podem chegar a algum sucesso se desistirem de defender a “normalidade”. Não há mais normalidade alguma. Vocês precisam fazer uma autocrítica da própria incompetência. Mas vou ser franco… na boa… na moral… Estamos todos no centro do Insolúvel. Só que nós vivemos dele e vocês… não têm saída. Só a merda. E nós já trabalhamos dentro dela. Olha aqui, mano, não há solução. Sabem por quê? Porque vocês não entendem nem a extensão do problema. Como escreveu o divino Dante: “Lasciate ogna speranza voi che entrate!” Percam todas as esperanças. Estamos todos no inferno.
_____________________________________________
Resposta:
Querido Salomão,
Infelizmente é como ouvir o diabo falando a verdade. O Marcola (seja ele mesmo ou alguém em seu nome ou criando-o) fala, obviamente, a partir de uma “perversidade lúcida”, como se capacidade analítica tornasse a maldade menos feia. .
Também, infelizmente, Marcola está certo quando diz que há mutantes em mutação. Paulo diz em II Timóteo capítulo três que “nos últimos dias” as mutações seriam profundas; chegando à total desafeição; à total crueldade deliberada e aberta.
A analise é perfeita. E a solução, a de uma tirania organizada, culta, inteligente, ágil, e sem burocracia, em tese, seria a solução. Porém, é uma lógica de solução mentirosa; “pois não há ninguém digno de abrir o livro e lhe desatar os seus 7 selos”. Portanto, nem na terra, nem no céu, nem no mar, nem no ar, e nem no além, há esse déspota que seja “Senhor” e não vire diabo imediatamente. Assim, até a solução é falsa; pois criaria apenas um “anti-cristo-latino-brasileiro”. Embora o “seu Jorge” cante que está nascendo um novo líder lá no pau da bandeira; na Mangueira. Isso para não chorar.
Há três coisas na entrevista do Marcola que me chamaram atenção (pois há dezenas de outras coisas que ele diz que você, eu, ele, e muita gente, estamos cansados de saber):
1. A conexão existencial entre eles e os movimentos terroristas: Digo, desde que conheci o Marcinho VP em 94, que tal “identificação” aconteceria. E aqui no site há mais de um texto falando dessa possibilidade de conexão, mostrando as identificações existentes, as visões de mundo, extremamente semelhantes; e, sobretudo, um mesmo espírito em relação ao significado da vida e do mundo. E eu creio que isto ainda crescerá para níveis que hoje os nossos desgovernantes sequer vislumbram. A situação de homem-bomba descrita por Marcola como existente no Brasil é ainda pior do que a existente no oriente-médio, por exemplo. Isto porque o “suicídio” do homem-bomba palestino ou mulçumano radical, é também motivado pela idéia do Paraíso; e a de Marcola (o Bin Laden brasileiro), não necessita nem mesmo do Paraíso como motivação; pois, seus comandados, já existem conscientemente no inferno. Portanto, é da merda para a merda; sem ilusões; sem auto-engano. Por tal razão de desenraizamento efetivo total, e pela absoluta ausência de vínculos, e, sobretudo, pelo espírito de morte-pela-morte que vaza da fala de Marcola — eu diria que seu espírito, é ainda mais perigoso do que o de um Bin Laden. Pois, o mulçumano luta por algo. Já Marcola quer ver o reino do Insolúvel.
2. A consciência de Marcola acerca desse tempo de globalização pós-miséria e pós-cristão, fazendo surgir um mutante psico-social; mas que, sobretudo, é um mutante na consciência e acerca do significado da existência — é algo que pouca gente está percebendo. A ética desse mutante é a crueldade; e isto é feito com a naturalidade de quem usa um uniforme de escola pública. Eu, por exemplo, mesmo que não me soubesse e nem me sentisse como um discípulo de Jesus, apenas pela vida na civilização ocidental, tendo sido filho de minha geração, e visto vários governos absolutistas se tornaram o diabo Estatal, jamais proporia como solução um “despotismo lúcido”, como o Marcola propõe. Ou seja: o nível da proposta realmente revela o nível da primitividade do sentir; e, sem dúvida, por meios certos e também errados, não nos foi possível, ainda que expostos apenas à corruptela do Evangelho, ficarmos de todo impermeáveis à alguma coisa dele. Mas Marcola não. Ele sabe que é filho de uma outra espécie de percepção; e assume isto com um nível de consciência deliberada que, por mais entranhada que esteja nele, ainda assim o trai na linguagem (que sem dúvida, é nova, e não é feita de palavras); pois, veio de sua própria boca a separação maniqueísta entre bem e mal, quando disse, ainda que ironicamente, “vocês são o bem; a gente é o mal”. Entretanto, para que uma pessoa assuma tal identificação tão deliberada, considerando o próximo assim como os homo-sapiens-quase-símios viam os Neandertais quando encontravam tribos deles — algo muito profundo tem que ter acontecido. Para ele não há nem povo, nem nação, nem país, nem Estado. Só há “eles”, lá; e “nós”, em casa, no inferno. Portanto, o que temos é a manifestação da mais profunda desumanização lucidamente assumida, mas que nem por causa disso, deixa de levar a pessoa ao estado mais animal e cruel possível. Ou seja: sempre desejosos de submeter o outro ramo da “evolução” à extinção. Assustou-me também quando li o repórter aceitar o que Marcola determinava, quando aceitou a diferenciação entre vocês e eles. O que “nós” temos que fazer? “Nós” contra Marcola; eles. Sim, as tribos estão em guerra. As espécies antagônicas se encontraram e não houve, até aqui, condições de paz. E Marcola é o trágico profeta dessa maldade insolúvel aos humanos.
3. A proposta de Marcola acerca do Homem dos homens, de um super-homem, de um Diretor Capaz, ecoa bem o espírito desta Era, que será cada vez mais assim — sempre indicando a necessidade de convergência total de poder para algum-alguém. Esse é o espírito do anti-cristo crescendo existencialmente sobre a Terra.
O que Marcola não sabe é que o inferno nem começou ainda. Ele ainda não sabe de nada. Na realidade o inferno é como cada um. E o de Marcola, sem dúvida, é auto-consentido. Entretanto, o Inferno na Terra ainda crescerá tanto que o próprio Marcola se assustará. O tal “Desposta” vem aí. E vai passar sobre todos os Marcolas. Assim como passará sobre todo e qualquer poder. Até que venha o Senhor! E o destrua com o sopro de Sua boca!
Estes são dias difíceis, meu irmão. E não vejo braço humano capaz de abrir o Livro e lhe desatar os selos. Mas não choro mais como João; pois, hoje eu sei Quem é Digno de abrir o Livro e lhe desatar os seus 7 selos!
As razões do Marcola são esmagadoras como as lógicas da morte. Eu, porém, olho para o Alto, e do Céu espero o meu Salvador; pois, aqui nesta Terra, quem me socorrerá?
Deus nos abençoe, meu irmão!
Nele, que é o Único Digno de abrir o Livro da História Humana, pois derramou Seu Sangue como Cordeiro Eterno e Histórico,
Caio