UM PAPO DE PRAIA SOBRE A CARTA DE PAULO AOS ROMANOS.

 

UM PAPO DE PRAIA SOBRE A CARTA DE PAULO AOS ROMANOS.

 

Aqui acontecerá apenas uma seqüência de sentido da Carta de Paulo aos Romanos.

Não tenho a Bíblia comigo.

Não faço um estudo bíblico.

Não faço um comentário…

Apenas conto a você, como se estivéssemos na praia conversando, o que eu diria de modo breve, caso sua pergunta me fosse:

Caio, qual a síntese da Carta de Paulo aos Romanos?

Ora, esta seria minha resposta à beira-mar…

Paulo escreve antecipando uma visita aos de Roma. Esperava que, de viagem até a Espanha, pudesse dar uma parada em Roma, a fim de edificar a fé mútua, dele e dos irmãos locais.

Nesta carta ele leva em consideração os argumentos que alguns levantavam contra o Evangelho, conforme ele o pregava, e apresenta uma arquitetura de seu pensamento sobre a fé, e o faz sem deixar nada do que fosse relevante tanto à fé quanto à realidade, de fora de sua analise.

Após introduções saudáveis e, ao mesmo tempo, afirmadoras das bases de sua edificação — Jesus, o Evangelho, e coerência de se crer na justiça de Deus tanto para a condenação quanto para a salvação, indiscriminadamente e de modo gratuito no salvar, e justo no condenar — Paulo chega onde quer: afirmar que ele não se envergonha do Evangelho em lugar nenhum, diante de homem algum, e por quaisquer que fossem as suposições de não-necessidade da Palavra da Vida em Jesus por quem quer que fosse; pois, para ele, ninguém escapava da verdade e da espada do Evangelho, visto que ninguém estava não necessitado dele.

Por isto ele não se envergonhava.

Ele sabia que anunciava o sentido da vida; e isto para qualquer que fosse o entendimento; fosse o romano, o grego, o judeu, o bárbaro, o gentio mais distante… — qualquer um; afinal, todos pecaram e pecam a seu próprio modo, e, por isto, pecando com criatividade perversa, todos morrem, pois, todos pecaram, e, portanto, todos precisam do Evangelho, que é a glória de Deus para os homens.

Todos os que não querem deliberadamente o Evangelho colocam-se sob a ira de Deus, embora a ira de Deus seja o deixar o homem seguir o curso natural de suas escolhas, com todas as conseqüências que possam advir.

Assim, dos mais surubentos romanos, aos judeus mais monoteístas, passando pelos moralistas e judiciosos pela superioridade filosófica, como os gregos, Paulo diz que todos estavam em situação pior do que a do homem distante, o gentio para além da informação; pois, no estado de discussão moral, ou legal, ou ético, residia o espírito da Lei/Ética [que era a fixação dos judeus, dos romanos, dos gregos e dos instruídos], e, segundo Paulo, a Lei apenas avulta, agiganta o pecado na consciência.

Ora, Paulo diz que não é a mesma coisa na existência do alienado, que, sem as fantasias do saber, apenas segue a simplicidade de sua consciência, ora se acusando, ora se defendendo, porém, sempre buscando viver segundo a norma intrínseca da verdade estabelecida no coração que não se cauterizou pela presunção do saber superior ou da conduta melhor.

Ao mesmo tempo em que assim faz, Paulo usa a arrogância judaica acerca da Lei e da superioridade dos judeus por serem os detentores do Direito Autoral da Lei e do Deus da Lei, e, então, mostra como a circuncisão [fimose cerimonial dos judeus] não designava um judeu segundo Deus, pois, para a Deus, o gentio alienado, o ser distante de todas as geografias de privilegio de informação [a fim de trazer o debate ou melhor, o entendimento, para as dimensões subjetivas do coração] — era mais judeu para Deus do que o judeu de carteirinha; o judeu circuncidado.

A circuncisão é a do coração. O judeu é o que anda pela fé como Abraão, e isto em qualquer povo ou nação. Os amantes de Deus podem estar distantes de todas as geografias, mas somente se saberá isto quando Deus, em Jesus, abrir os cofres dos corações de todos os homens, de todos os tempos, de todos os lugares.

Por isto Paulo não se envergonha do Evangelho!

A viagem toda afirma que somente mediante a fé o homem pode andar justificado diante de Deus, visto que pela Lei, o que se obtém é apenas culpa, condenação e morte; posto que ninguém cumpra a Lei, e, portanto, por ela, em suas implicações profundas, radicais e subjetivas, não haja nenhum justo, nem um sequer.

Paulo, então, agora, sabendo que os principais argumentos contrários provinham dos judeus, usa as categorias judaicas a fim de provar o que diz.

Abraão foi justificado pela fé, e isto antes de haver o rito da circuncisão; portanto, diz Paulo, a circuncisão seria um rito antigo válido apenas como validação publica da fé já existente; posto que o pai da fé, Abraão, foi justificado por Deus somente pela fé; pois, não havia a Lei como parâmetro de nada; embora fosse a fé que fizesse dele um homem para além da Lei.

E diz que o sinal da fé em Abraão é a fé na ressurreição dos mortos, razão pela qual entregara seu filho no altar de Moriá.

Sim! Paulo diz que Abraão já era um homem do Evangelho, não do Monte Sinai e da Lei; e isto antes de haver Lei.

Faz o mesmo com Davi, o Rei Arquetipico dos judeus.

Davi fora justificado pela fé, e mais: declarara que é pela fé na misericórdia de Deus que o homem se torna o bem-aventurado que não recebe imputação de pecado.

Por isto Paulo não se envergonha do Evangelho, pois, é o único poder para a salvação de todo aquele que crê.

Paulo, no entanto, sabe que sua mensagem sobre a Graça de Deus no Evangelho, provoca toda sorte de ilações.

Havia os que diziam que, a crer segundo Paulo, era bom pecar, pois, assim, receber-se-ia Graça de Deus, além de uma vida sem compromisso com a pratica da justiça.

Havia também os que o ouviam dizer que onde abundou o pecado, superabundou a graça, e, assim, diziam: Ora, façamos males para que nos venha graça abundante.

Ele, porém, diz que não é assim.

Afinal, só tem vida em Jesus quem aceita que morreu com Jesus na Cruz e que com Ele ressuscitou para uma nova vida hoje.

E, assim, diz que se a desgraça humana em Adão foi universal e catastrófica, agora, no entanto, em Jesus, Deus estava fazendo algo maior do que a transgressão de Adão poderia ter feito.

Assim, acabando com o argumento da inconversibilidade do cínico, Paulo diz que só não prova o beneficio do Evangelho aquele que não quer mesmo; pois, de fato, o que Jesus fez é maior do que em Adão se manifestou como morte; e, portanto, não há razão para que alguém se aferre na “Desculpa de Adão”, pois, em Jesus, Adão morreu.

E mais: Paulo diz que todo aquele que Nele crê com Ele também morreu; sendo que os benefícios da Árvore da Vida em Jesus, são infinitamente maiores em alcance de Graça do que a desgraça adâmica advinda da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal.

Por isto Paulo não se envergonha do Evangelho, pois, o Evangelho de Jesus é maior do que o Livro da Morte de Adão.

E mais:

Paulo diz que o argumento da existência que não se converte, pois, diz que nasceu assim, é falso; pois, segundo ele, somente é assim para quem não aceita de modo existencial a sua própria morte em Jesus; visto que, segundo Paulo, para quem morreu, tanto não há mais débito, quanto também surge uma existência sem os condicionamentos ao corpo de morte, que, nesse caso, é uma designação para a existência levada pela pulsão da morte e pela fobia da morte, que apenas geram o espírito de escravidão, medo, culpa, e, como conseqüência, o desespero que faz pecar de modo ávido.

Entretanto, diz Paulo, se alguém morreu, o pecado já não tem mais domínio sobre ele.

Para Paulo, portanto, a morte era o caminho inevitável para a nova vida em Jesus.

Daí Abraão ter sido tão importante, visto que de sua morte de esperanças humanas, de seu estado de impotência, foi que nasceu a fé que crê na ressurreição dos mortos, e que, como conseqüência, deflagra a liberdade dos filhos de Deus.

Ora, a fim de viver tal realidade, Paulo diz que o homem tem que admitir sua doença essencial, sua psicose básica, sua divisão interior, e, também, sua inclinação para a Lei da Morte.

Sim! O homem tem que entrar em estado de desespero consciente, e tem que gritar: “Desgraçado homem que eu sou! Quem me livrará do corpo dessa morte?”

Então, diz ele, havendo a desistência de qualquer que seja a auto-justificação, e havendo a entrega consciente em fé ao significado do que Jesus fez e consumou — instala-se na pessoa o espírito de adoção de filho; e, assim, crescendo-se no amor de Deus, nasce a certeza de que Jesus não apenas pagou o preço de todos os pecados, mas, muito para além disso, abriu a porta a libertação para todo homem; posto que seja pelo Evangelho e pelo amor de Deus que surja no homem a nova pulsão, a nova inclinação, a qual não é rasteira, mas ambiciona no espírito a mergulho na intimidade de Deus, que já real, mas que precisa ser apropriada pela fé por todo homem.

Assim, Paulo não se envergonha do Evangelho, pois, somente a pacificação que o Evangelho trás é que pode colocar um homem andando sem a fobia da morte, sem os grilhões dos escravos, e, muito para além disso, o capacita a viver a vida de um ser que chama a Deus de Paizinho; em verdade.

Ora, tudo isto acontece em meio à dor e à vaidade do existir; nosso e de todas as criaturas.

Assim, a experiência de tal processo no tempo/espaço, na terra, é feito de alegrias e gozos no espírito, tanto quanto também acontece entre gemidos, nosso e da criação.

Paulo diz que toda a criação geme, dando agonizante testemunho do desejo latente em todas as criaturas de que sejam libertadas da imposição da vaidade da tirania do pecado do homem sobre elas.

Nós, os que cremos, segundo Paulo, somos as primícias de tal consciência entre os homens, por isto, comemos a esperança que não confunde, e que é a esperança de que tudo e todos sejam transformados para terem a experiência da glória de Deus.

Entretanto, para Paulo, era no ventre da existência, com suas dores e contradições, que Deus tecia do pior o melhor, tão somente a pessoa confiasse Nele em amor.

Por isto Paulo diz que os sofrimentos do tempo presente não são para comparar com o peso de glória a ser revelado nos que crêem em Jesus, no dia de Cristo.

Enquanto isto, afirma Paulo, Deus chama os homens a se tornaram Seus cooperadores na distribuição da Graça entre todos os humanos.

E diz que isto deve ser feito por imposição da consciência de nosso chamado antes dos tempos para, no tempo, manifestarmos a Graça de Deus com cara de gente.

Assim, ele garante que para quem crê não há mais condenação, nem acusação, nem juízo e nem poderes que separem tal pessoa do amor de Deus.

Paulo, entretanto, detesta polarizações perversas.

Ele vê que os judeus, por ele tão usados como ilustração do que deveria ser e não se tornou em razão da arrogância espiritual, e percebe que deveriam ser afirmados como gente que, embora vivendo na ignorância da incredulidade, era ainda gente do pacto de Deus, e, portanto, um dia haveriam de ser restaurados.

Do mesmo modo, ele roga que os gentios, agora alcançados pela Graça do Evangelho em Jesus, não se tornassem “judeus” na mesma arrogância.

E diz: “Se Deus cortou aos judeus que eram ramos naturais, por que não podaria os gentios, que foram enxertados na Graça como imposição gratuita, a menos que eles andem segundo o Evangelho?”

Paulo não se envergonhava do Evangelho também porque o Evangelho não tem barganhas a fazer com ninguém, nem com judeus e nem com gentios de qualquer natureza. Nem mesmo com a igreja/gentios, pois, não há barganhas.

No fim Paulo diz que Deus usa o elemento da contradição, do ciúme, e que são elementos prevalentes neste mundo de gemidos, a fim de ver se os seguros se assombram com as liberdades de Seu amor por Quem Ele bem desejar.

Assim, Paulo diz que Deus só tem compromisso com a sinceridade que se torne verdade da consciência que permanece em estado mutante constante, estimulada pela alegria de ter sido alcançada pelo entendimento do Evangelho, e, por causa disso, não parando jamais o processo de conversão diária, de culto do entendimento e da consciência viva em avidez pela verdade a ser pratica como bem do Evangelho para a vida.

Por isto Paulo não se envergonhava do Evangelho, pois, é o poder de Deus para manter a mente do homem em estado de arrependimento saudável por toda vida, sem sucumbir à presunção dos que se justificam a si mesmos, e não mantêm a confiança exclusiva na Graça de Deus em Jesus.

No fim Paulo diz que o Evangelho tem que se tornar relacionamento em amor fraterno, solidário, amigo, generoso, amante do bem; sempre servindo em mutualidade de dons em amor; e nunca buscando justiça própria, muito menos vingança.

E mais: Paulo diz que quem desenvolveu consciência mais adulta no Evangelho, deve ser paciente com os que, pela ignorância, ainda pensam no Evangelho como uma dieta de virtudes. Entretanto, mesmo com todo amor, não deixa que tal engano vire status de santidade entre os discípulos.

Em síntese:

Paulo não se envergonhava do Evangelho porque ele, o Evangelho, era a única alternativa de vida em meio a milhões de enganos de existência — e isto ia do romano surubento ao judeu moralista; ia do grego superior de idéias e de éticas, e morria ante a simplicidade de um índio alienado, mas que respeitasse os clamores da verdade na consciência.

Todos, entretanto, pecaram e pecam — por isto Paulo diz: Não há quem escape; e até os que escapam sem saberem a razão, saberão que foi apenas porque foram amados por Aquele a Quem desejaram obedecer como simples norma interior, mas que era e é o Salvador de todos os homens.

Esta foi apenas uma viagem que fiz na mente, com a Bíblia fechada, como se eu tivesse que contar o sentido da carta para um amigo sem tempo para ler a Carta de Paulo aos Romanos.

Mas fica a minha sugestão para que você, agora, leia a carta toda, por você mesmo, e veja o que o Espírito de Deus lhe fala ao coração.

Lutando para que Paulo não tenha corrido em vão,

 

Caio

5 de abril de 2009

Lago Norte

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