UM PSICÓLOGO COMENTA: ESTE SITE TEM TRAZIDO SAÚDE
—–Original Message—–
From: De Um Psicólogo Para Você
Sent: domingo, 12 de outubro de 2003
To: [email protected]
Subject: A Graça como cura para a alma
Mensagem:
Amado irmão e amigo: Que a Graça de Cristo o revista!
Quero agradecer-lhe pelo modo carinhoso e paciente demonstrados nos esclarecimentos prestados acerca da questão do Homossexualismo.
As reflexões me ajudaram a ter uma compreensão bastante equilibrada e sensata, tanto como cristão como profissional em psicologia.
Sinto-me feliz por saber que as orientações também têm beneficiado a outras pessoas que vêm lidando com essa realidade em suas famílias, proporcionando um lenitivo para as suas almas.
Pastor Caio, louvo ao Senhor pela sua vida, a qual tem sido um canal por onde a Graça de Deus tem revolucionado não apenas a minha vida, mas a de milhares.
A maneira como você transmite a Palavra do Evangelho, sem os “condicionamentos evangélicos”, e as ênfases na “culpa”, no “pecado”, e no “diabo”—ênfases que tanto ocupam os “sermões” das igrejas, adoecendo, oprimindo e condenando a uma vida estéril tantas almas pelas quais Jesus Cristo deu a sua vida—têm ajudado a muitos.
Depois que passei a ler e a compreender corretamente os artigos, reflexões e devocionais sobre a Graça Maravilhosa—textos aqui do site e de sua autoria—tenho experimentado a libertação genuína de todo sentimento de culpa que me adoecia espiritualmente, emocionalmente e afetivamente.
Sinto-me mais “leve” e o Amor de Deus parece fluir com mais naturalidade nas minhas experiências cotidianas.
Sem barganhas com o Pai, nem votos ou sacrifício para viver “certinho”, como se dependesse do meu esforço pessoal, a fim de obter o que a mim já foi dado por Ele, sem que eu merecesse. Tudo isso apenas porque Ele é quem Ele é!
Tenho compartilhado com outras pessoas a visão correta da Graça e elas têm testemunhado também em suas vidas a libertação da culpa e da opressão imposta pela cultura da religião e pela história.
Infelizmente, tudo isso começa na infância quando somos “educados” no lar e na EBD das nossas igrejas, que estão carregadas de uma herança onde a ameaça, a punição, o castigo e o legalismo são injetados na mente e no coração, estendendo-se pelas demais fases da vida, vindo a criar uma imagem completamente distorcida de Deus, com reflexos desastrosos.
Quero fazer parte dessa nova geração, querido pastor!
Sei que você também é compositor. Estou certo?
A letra da música “É preciso” que você fez para o saudoso e amado irmão Sérgio Pimenta—do VPC e Grupo Semente—, possui uma mensagem profunda e desafiadora.
É uma das que mais amo!
As músicas do Sérgio Pimenta são lindas, de letras bem elaboradas, mensagens profundas e atuais, e estilos diversificados. Tive a alegria de conhecê-lo em 86, na Igreja Congregacional do Encantado, onde naquela ocasião conversamos um pouco, e ele cantou “Você pode ter”.
Estou desejando fazer um trabalho sobre o Sérgio mostrando a influência de sua vida na juventude evangélica brasileira das décadas de 70 e 80.
Você poderia dizer algo sobre a sua amizade com ele e como poderia obter mais informações?
Tenho orado pelo seu papai. Como ele está?
Você tem simpatia pela Psicologia? Pergunto porque muitos dos seus livros focalizam o aspecto existencial do ser humano e demonstras profundo conhecimento sobre os representantes da Psicologia e Psicanálise.
Um grande abraço
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Resposta:
Meu amado irmão: Paz sobre nós!
Obrigado digo eu, pela sua sugestão do tema e pelo modo limpo, fino, profissional e cristão como você o sugeriu.
De fato eu creio que é uma grande pena e perda que a Palavra de Deus, na maior parte das vezes, não passe da Bíblia como livro, da Escritura como texto; de Cristo como um ícone, da Graça como doutrina, e da fé como uma crença religiosa.
A Reforma Protestante afirmou os temas certos—somente a Fé, somente a Graça, somente Cristo, somente a Escritura—, mas não conseguiu confiar na proposta, e nem tampouco desvencilhar-se do “espírito religioso”, o que é imprescindível a fim de que se possa ler a Bíblia sem vê-la tornar-se apenas Escritura, doutrina, crença e moralismo comportamental.
Tenho dito que as 95 teses de Lutero eram redundantes, pois a tese era uma só: a Graça de Deus em Cristo Jesus!
A leitura do Evangelho e a sua “releitura” em Paulo, nos deixa ver a centralidade do tema; a tal ponto que para Paulo essa era a única questão. Tudo o mais girava em torno dessa revelação, e nada seria eficaz para a vida se não viajasse por aí.
“De nada Cristo vos aproveitará”—dizia o apóstolo.
O problema é que essa visão da Graça de Deus realmente demanda que se entregue a totalidade do ser em confiança ao que Jesus fez, de uma vez e para sempre. Não só tem-se que crer que Ele fez de uma vez e para sempre, mas a gente tem que se entregar ao “de uma vez e para sempre”, para sempre e sempre, todos os dias; até chegarmos ao ponto em que toda e qualquer discussão interior cesse, e a alma descanse Nele.
Ora, em minha maneira de ver nada é psicologicamente mais poderoso para o “ser” que tal discernimento.
Aqui é que Tudo Está Consumado a fim de que nós, os seres ainda inacabados, possamos ter “paz” para encontrar a Paz.
Somente quando terminam todas as justiças próprias e o ser discerne que não tem nenhuma luz própria, é que se pode andar na Luz, apenas porque se vê a Luz.
O interessante é que em I João 1: 5-9, o tema da verdade e da luz se tornam um só. Andar na luz é andar na verdade. E, o perdão dos pecados no sangue de Jesus vem de andarmos na luz assim como Ele está na luz; o que acaba com as farsas entre os humanos; e, então, sem mascaras, podemos todos ter comunhão e experimentar o fato realizado de que o sangue de Jesus nos purifica de todo pecado, pois ninguém se julga mais do que ninguém.
A conclusão de João é que é chocante: a maior mentira é não admitir que se comete pecado. Isso é fazer Deus mentiroso. Isso é não ter nem a luz, nem a verdade e nem a Palavra de Deus permanente em nós.
Daí a ênfase dele ser no “Se confessarmos”, e a conclusão ser “Ele nos purifica de todo o pecado”.
Mas entre a causa (a fé que confia e confessa) e o efeito (o perdão apropriado pela fé na Graça de Cristo), João deixa o caminho, a via na qual a mentira pode se dissolver na verdade, que é o espaço do encontro humano, da comunhão, e da admissão de que nossa mentira é essencial; e que ela é a presunção de não sermos em nós mesmos apenas “pecado-cometido”; ou, na melhor das hipóteses, seres em permanente estado de “co-missão” no pecado.
“Tenho vos escrito estas coisas para que não pequeis”—diz João após dizer que o pecado é negar o pecado.
“Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o justo; Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro”—concluiu o apóstolo.
Ora, quando se sabe disso—e aqui a tese é a mesma de Paulo, só que falada com outra linguagem—, os mecanismos de culpas ficam desativados dentro de nós; e sem a presença da culpa como condenação, cessa a geração das compulsões que nascem da tentativa neurótica de se agradar a Deus pelas obras da Lei.
Assim, é que sem condenação pode-se experimentar a paz de Deus, e prosseguirmos para o caminho de nós gloriarmos na gloria da graça de Deus, mesmo que isto aconteça até mesmo na experiência da tribulação, conforme é a tese de Paulo aos Romanos.
Na minha maneira de ver isso não leva ninguém à perfeição—até porque esse estado não existe na Terra e nem no coração, tendo que ser experimentado ainda como concreção mais adiante na jornada do ser—, mas dá a todos nós a paz para chegar à Paz.
Mas nada disso se efetiva sem Jesus. Fazer a supressão de Cristo deixa-nos apenas com um mecanismo de fabricação de cínicos, pois a única realidade que não permite que a Graça gere libertinagem, é o amor de Cristo. Porém, nada nos salva o ser da culpa, senão a Graça de Jesus.
A alma somente deixa suas doenças pela via da experiência do amor de Deus. Sem esse “constrangimento” do amor—e que é centrado na Cruz—, não surge a nova criatura, conforme II Coríntios 5.
No dia em que o povo de Deus crer nisto e no dia em que os pregadores também crerem nisto, uma revolução acontecerá.
Enquanto isto a gente tem apenas “doutrinas de homens”, “fermento de fariseus”, e “leis de morte”. E, assim, a alma morrerá em vida, mesmo que com a boca cheia do nome de Jesus, como letra morta.
Minha formação em “psicologia”, portanto, nada mais é que minha experiência com o Deus de toda Graça e com minha própria natureza caída, e tão necessitada de paz para chegar à Paz!
Já li muito mais psicologia do que hoje em dia. Para ser franco—à exceção de uns cinco livro de C.G. Jung e uns dois de Freud—, nos últimos anos não li quase nada de psicologia que possa ver chamado de trabalho de fôlego.
No mais, quero reforçar que é a religião que não deixa o individuo chegar a usufruir a paz que a psicologia oferece, mas nem sempre consegue entregar.
A religião impede consciente e inconscientemente o processo porque isso lhe tira o poder sobre as pessoas. Quem vive da culpa humana é a religião. Ela é que precisa que nada seja definitivo, pois ela precisa “administrar as dose” da cura.
Curar os doentes poderia acabar com a “saúde do negócio da culpa”, e levar os “médicos-sacerdotes” a um esvaziamento de poder.
Desse modo, a culpa precisa ser mentida para que o negócio não pare e o poder de controle não desapareça.
Sobre eu ser compositor, devo dizer que não sou, mas já fiz algumas coisas. Especialmente a pedido do Sergio Pimenta, irmão amado, que já entrou na Paz.
Conheci o Sérgio em Manaus, aos quatro anos de idade. Sempre fomos amigos, apesar de termos passado uma boa parte da vida nos encontrando nas férias ou nos eventos. Tudo o que você desejar de mim em relação a isso é só perguntar.
Acho que todo o trabalho que se puder fazer a fim de não deixar memórias como a dele desaparecerem só fará bem às novas gerações, tão vazias de tudo, até na hora de cantar.
Nem poesia as coisas tem mais; quanto mais, melodia!
Meu pai está melhor. Hoje conversei longamente com ele. Em 15 dias estarei outra vez em Manaus. Agradeço as orações.
Aguardo sua visita ao Café.
Será um prazer abraçar você.
Nele,
Caio