UM SÓ AMOR: e muitos modos de amar!



Eu fui a maior parte da vida um pai que julgava que minha maior responsabilidade na vida era proteger meus filhos e minha família. Assim, meu intenso e apaixonado amor pelos meus filhos, se manifestava como afeto, carinho, proteção, provisão, educação, diversão; e, se necessário, disciplina. Neste sentido, de certa forma, eu reproduzia o padrão de amor paterno já expresso em várias gerações de minha família. Meu bisavô criou os dois filhos sozinho. Meu avô foi pai de 10 e criou muitos mais, sendo para todos um “pãe”. Todos os filhos dele foram pais nesse mesmo espírito. Dentre os irmãos, creio que meu pai tenha sido o mais explícito nesse modo paterno de amar. Eu andei após ele. E amei meus filhos como ele me amou. Meus filhos, entretanto, à semelhança dos dele — eu e meus irmãos —, me forçaram a aprender a amar também de outros modos; aprendidos e em aprendizado. Portanto, ainda em processo de aperfeiçoamento. Entretanto, conceitualmente já absorvidos por mim como verdade. Na realidade foi a adulteza de meus filhos que me esticou para além de todos os meus limites antes concebidos. Todavia, foi nesse processo, que tive que começar a aprender a amar sem inter-ferir. No que fui extremamente ajudado, na prática, por minha mulher, Adriana, que me dizia: “Não se aflija. Eles terão que viver. Depois você verá o bom resultado”. “Teologicamente” tudo sempre esteve organizado em minha cabeça. Sempre soube como Deus “deixa”, “permite”, “silencia”, “entrega a si mesmo”, ou apenas vê o filho partir “para a terra distante”, sem nada “poder” fazer, a não ser “esperar” pela hora da “revelação”; e isto em meio às dores da existência; dores essas que os pais tentam poupar-nos de viver; porém, sem as quais, muitas vezes, nenhum de nós as sabe-para-si como verdade-verdade, mas, no máximo, como como conceito verdadeiro. Assim, foi no balanço da existência que meus filhos me fizeram aprender a amá-los de outros modos. Hoje, enquanto curto uma gripe que me impediu de ir à reunião “dos do Caminho”, em Brasília, fiquei saudoso de meus filhos. Esta semana estivemos juntos, no meu aniversário. Mas como eu mesmo não sabia que estaria aqui hoje, já os encontrei com a agenda cheia. Além de que eu mesmo estou sem ânimo para ir a qualquer lugar. Foi quando pensei na viagam de amor que fiz com cada um deles. Desde que nasceram até o dia de hoje. E vi como meu modo de amá-los, em cada fase ou situação de nossas vidas, foi mudando. Sim, foi da intervenção total, sem a qual eles morreriam; até o dia de hoje, quando, no máximo, posso expor o que creio que devem fazer, mas não posso ir além disso. No fim eles são adultos e livres. Ora, é nesse ponto da vida, quando seu poder de intervir acaba, é que começa a paternidade como conselho e fé. Ou seja: é nesse ponto que a paternidade humana vai ficando cada vez mais divina. Quem olha para este mundo e pensa que possa, sobre ele, haver um Deus que seja Pai e Amor, não entende absolutamente nada; posto que em nossa maldade burra, julgamos que seríamos melhores pais do que Deus é “Pai” dos homens. E por quê? Porque nossa visão de amor é apenas concessiva e não se faz associar de disciplina e de liberdade. Isto porque não sabemos que, muitas vezes, o único modo de disciplina é a liberdade; como foi no caso do chamado “filho pródigo”, que era já um jovem adulto. No Evangelho, entretanto, o amor de Deus se manifesta como perdão a todos, especialmente aos que não sabem o que fazem. Entretanto, na prática, ele se mostra como amor que se faz sempre próprio. O amor cresce em excelência quando ele cresce em senso de propriedade. Se o temor do Senhor é o princípio da sabedoria, eu lhe digo: o amor é o fim de toda sabedoria; pois o amor pleno não é sabedoria; ele sabe. Ora, assim é que Jesus ama ao ar livre com as manifestações das mais estranhas contradições. Ele ama o jovem rico até as entranhas — simpatizou com ele, amou-o; e é a única ocasião nos evangelhos em que se diz que Jesus olhou e amou alguém —, porém não o deixa ir com Ele, não lhe faz concessões; e não diz a Si mesmo: “O levarei comigo, e no caminho ele aprende!” Não! Ele o deixa triste, andando em seu próprio caminho de justiça-própria e devoção camufladora de seu amor ao dinheiro. Lázaro, entretanto, se diz que Jesus ama; porém, apesar de tal amor, Ele, depois de informado da “quase morte” do irmão de Marta e Maria, ainda demora-se mais quatro dias onde estava, sem se levantar em santo amor desesperado a fim de salvar o Seu amigo. Jesus não advertia a ninguém; a não ser se bem-indagado; ou a menos que tal pessoa andasse com Ele, como foi o caso de Pedro; embora Judas tenha recebido apenas advertências “impessoais”. Jesus advertiu os que levavam as pessoas para o buraco, conforme Mateus 23 nos narrra. Ao mesmo tempo em que tirava do buraco os caídos. Mas não se metia na trilha de ninguém. Até o possesso de Gadara veio a Ele. Sim, Jesus ia… Mas deixava que a vida viesse a Ele. Só transformou água em vinho porque lhe foi solicitado. E fora dois ou três casos nos quais se diz que Jesus tomou a iniciativa da cura, todas as demais, dependem da disposição de fé das pessoas. Fora os doze que Ele mesmo chamou para com Ele estarem, Zaqueu é o outro caso-com-nome no qual Jesus chama alguém. No mais, ninguém mais… Entretanto, a todos Ele amou; e de todos teve compaixão; porém, amou do mesmo modo do Pai amar. Assim, olhando para o modo de Jesus amar na prática, aprendo também como amar na prática até aos que já amo; e, mais que isto: fico sabendo como Deus ama os homens; e me quedo quebrantado ante o fato de que a única realidade que Deus vê como real é o que está em meu coração; e, assim, observo as produções do meu coração; de onde procede a verdade; que é o que Deus ama. Desse modo, amar a fim de levar alguém à verdade, pode significar apenas falar, mas deixar ir; assim como pode significar “repartir a herança” e dar liberdade; ou mesmo pode se manifestar como aquele amor que não quis levar consigo um jovem rico auto-enganado. Cada pessoa precisa ser amada de um modo próprio, pois, do contrário, a se clonar um modo único de amor, tal amor pode fazer muito bem a uns, enquanto faz mal a outros. Portanto, o amor clonado, pode matar. O amor que é saúde e saudável, antes de ser uma emoção e um compromisso, é um compromisso com o que é bom para quem se ama; ainda que o caminho seja aquele do Pai do Pródigo, que deixou o filho ir, e ficou na janela; pois sabia que a Graça haveria de fazer seu filho “cair em si”; embora, para ele, o filho, aquela tivesse que ser uma jornada de dor. O Pai espera! “O amor tudo crê, tudo espera, tudo suporta…” É por causa desse amor que a humanidade está viva. Pois Deus crê, Deus espera e Deus suporta; pois Deus é amor. Ninguém, entretanto, pergunte: “Onde está Deus?” Quem tem tal questão, saiba: a resposta é uma só: “Volte para casa! Seu Pai está esperando você!” Deus é amor doce como o mel e amor penetrante como o diamante! E a cada qual, sem barganhas, Deus concede o modo de amor que a pessoa precisa. Nisto eu creio; pois, é assim comigo; visto que foi assim que Jesus ensinou em cada encontro de amor que teve; e Ele só teve encontros de amor. Nele, que ama como é próprio amar cada um e cada coisa, Caio