UMA CARTA FELIZ!

 

 

 

 

 

—– Original Message —–

From: UMA CARTA FELIZ!

To: [email protected]

Sent: Wednesday, January 30, 2008 20:21

Subject: De BH….

 

 

Amado Pr. Caio Fábio, Vida, Paz, Sossego e desassossego d´alma (quem lê, entenda) e do coração sejam realidade existencial profunda em Ti!

 

Quero, de forma muito singela, manifestar minha profunda alegria e gratidão por tudo que tem acontecido em minha vida, através de sua vida e dedicação ao Reino de Deus. É a primeira vez que lhe escrevo, e deixo bem claro a real e plena inexistência de quaisquer expectativas quanto a uma possível resposta, comentários, ou coisas do tipo. Absolutamente. Primeiramente, porque sei um pouco, pelo que você tem publicado, do seu cansaço físico e mental; e em segundo, pelo simples e suficiente fato de que amo você e pronto. A mim, basta isso.

 

Em março, a Estação do Caminho da Graça em BH completa dois anos de existência, a partir daquilo que o Pai colocou no coração do Chico. Na verdade, tomei ciência da existência da Estação em Abril de 2006, ou seja, a “coisa” ainda estava bem incipiente (há um tempo atrás, o Chico me fez o favor de “refrescar” a minha memória, reencaminhando o primeiro e-mail que escrevi a ele, o que aconteceu exatamente neste determinado período).

 

Aliás, vale destacar que o texto se mostrava extremamente “inquieto”, mesmo porque foi escrito logo após a primeira leitura do “Sem barganhas”, e eu me encontrava sem chão. Ou melhor, sem aquilo que outrora, e por muito, muito tempo, se constituíra no meu “alicerce espiritual”.

 

De lá pra cá, tanta coisa tem acontecido em minha vida: na forma como passei a enxergar o mundo, a vida, as pessoas e, principalmente, a mim mesmo. E isso tem gerado uma consciência e uma pacificação d´alma que nunca julguei ser possível experimentar de forma concreta.

 

Tudo isso que afirmo não me conduz, ao contrário do que poderia transparecer, numa espécie de “situação de conformismo-imobilismo”, explicitada na simples idéia de que “tá bom demais, portanto não conte comigo”. Há pouco tempo, você escreveu um texto magistral a respeito disso, acerca da “graça-gelol”. Pois é, o que quero frisar é tão somente o senso de gratidão que inunda o meu coração, e do qual você faz parte em grande monta.

 

E como se não bastasse essa alegria indizível em meu coração, ainda tenho conhecido pessoas, no Caminho, que têm sido muito bacanas, e cujas amizades tem se tornado, a cada dia, como um bálsamo pra mim.

 

Assim, agradeço ao Pai por tudo que você representa em minha vida, e é sob seu “pastoreio virtual” que tenho caminhado. 

 

Aliás, meu querido pastor, gostaria de fazer-lhe um pedido: se for possível, peço-lhe que grave alguma mensagem aos caminhantes de BH, que seria exibida num dos encontros comunitários de março, acerca dos significados destes 2 anos de caminhada. Caso afirmativo, o Chico poderia trazer a gravação, já que estará conosco no final do mês de março.

 

Confesso-me apaixonado pelo que tenho vivenciado. O Mac Donald´s tem uma propaganda que diz “Amo muito tudo isso”. Pois é, apesar de ser meio avesso ao fast food, posso dizer que, entendendo progressiva e processualmente o espírito (geist) da proposta do Evangelho, pela simplicidade de tudo que o cerca, ando cada vez mais “encantado”.

 

Encanto que, ao invés de alienar-me da realidade, me permite olhar para ela sem as utopias e ufanismos, como sói acontecer no cenário religioso. Sem os óculos da religião, mas tão somente pelos olhos de Cristo.

 

Encanto que não gera uma percepção alterada – leia-se mesmo “maqueada” – da vida, mas, ao contrário, me move ao encontro com o outro. Como tão bem definiu o Chico, me “samaritaniza” nas coisas mais simples do cotidiano.

 

Encanto que não produz um conformismo ensimesmado, mas gera uma gratidão gostosa ao Pai das Luzes.

 

De forma conclusiva, meu caro pastor, percebo a Estação, empiricamente falando, como constitutiva de uma ambivalência assaz interessante. Ela se manifesta como “não-lugar”, no sentido sociológico utilizado por Marc Augé, até mesmo por que é, por definição, uma estação, e, portanto, eminentemente um lugar de passagem. Daí de distinguir, de maneira cabal, do modelo “igreja”, tal qual você tão bem já definiu. Tudo bem até aqui.

 

Contudo, penso que ela também se manifesta, em determinados momentos, como um verdadeiro “lugar”, numa conotação simbólica de cunho existencial. Digo isso pela concretude dos encontros humanos ali constituídos, transcendendo aos Encontros Comunitários, e o bem que faz experimentar o gosto do Evangelho. Pelo menos, é como têm acontecido, na minha percepção, aqui em BH.

 

Obrigado, meu querido, por tudo que você é pra mim. Conte comigo!

 

Um abraço fraternalmente sincero,

 

Henrique Willer

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Resposta:

 

 

Meu mano amado Henrique: Graça e Paz!

 

 

 

Sim! O Não-lugar é a mobilidade existencial vencendo as imobilidades físicas; posto que no conceito religioso-histórico de “igreja”, o lugar toma o lugar do não-lugar existencial. Assim, o lugar da reunião ou templo, se torna para a percepção básica e sem entendimento, como se fosse o não-lugar, como se fosse o coração. Desse modo, quem está fora do lugar das reuniões não está em lugar algum, do ponto de vista da “igreja”, visto que fora da “igreja”, segundo ela própria, não há lugar de graça e salvação.

 

Nosso eixo começa no Cordeiro imolado antes da fundação do mundo, antes de todos os lugares existirem. Assim, para nós, qualquer lugar é lugar, pois, quem carrega o significado do lugar é o não-lugar existencial que o discípulo carrega.

 

Desse modo, os dois ou três mencionados por Jesus, por serem gente do não-lugar, por viverem da sintonia não-lugarizada com Jesus, podem fazer de qualquer lugar uma estação de encontro em Jesus.

 

Se mantivermos esse entendimento conseguiremos caminhar na leveza, sem os dogmas dos “lugares” e sem “os esquemas de fixidez” que os lugares demandam.

 

Nada contra lugares físicos, afinal, não somos espíritos desencarnados, mas gente no tempo e no espaço, embora transcendendo na esperança da glória em relação a ambos: tempo e espaço — lugar da morte.

 

Uma Estação do Caminho, conforme se tem acentuado desde o inicio, é apenas um lugar de passagem. Afinal, diferentemente da igreja-lugar, nosso interesse é no mundo, único lugar no qual se pode viver, embora lutando contra o mal, e não no engano da suposição de que pode haver um lugar na Terra que não seja mundo.

 

Quando a “igreja” tenta ser o não-mundo, ela se torna um lugar. Sim! Apenas um lugar, em contraposição ao mundo como lugar de morte, sem perceber que esse não-movimento a estratifica como “o pior dos mundos”.

 

Sim! Um mundo sem Mundo, e que vai se tornando pequeno, mesquinho, e enrolado, pois, nada tendo a fazer de útil no mundo, faz de si mesmo o único mundo que importa, e, assim, aparecem nesse “mundinho-igreja” as piores manifestações de humanidade.

 

Quem salva o sal é a terra. Um sal no sal se tona monturo, e para nada mais presta, senão para ser pisado pelos homens.

 

Assim, a terra precisa do sal para receber gosto, e o sal precisa da terra para existir com significado.

 

Desse modo, a verdadeira igreja existe no e para o mundo, e se encontra numa hora e numa estação de celebração comum da fé na missão no mundo. Sim! E isto apenas para que se renove o “chamado para fora”, que é a designação da Igreja; ou seja: ser do Caminho.

 

Obrigado pelo seu carinho!

 

Estou feliz com tudo o que continua a acontecer aí depois da saída do Chico para nos ajudar aqui em Brasília.

 

 

Receba meu beijo e o transmita a todos os da Estação-BH.

 

 

 

Nele, que nos chama todos os dias,

 

 

Caio

 

30/01/08

Lago Norte

Brasília

DF