Uma Entrevista Sobre Escândalo
Nota: é impressionante como essa questão sempre volta. Já não é mais assunto. Mas se volta é porque fala mais das pessoas que do tema em questão. Sinto o carinhoso constrangimento até em quem pergunta. Por isto, sempre respondo. Pode ser que a normalidade seja restaurada nos outros, assim como sempre esteve em mim.
E-mail & E-mail:
Venho por meio deste lhe perguntar se seria possível pegar um depoimento do senhor. Visto que estou produzindo uma matéria com o seguinte tema: “Resgatando a Integridade do Líder”. A intenção desta matéria é enfocar a respeito de pastores(as) cujos pecados se tornaram escândalos. Pastor me desculpe se trago algum desconforto ao senhor, essa não é a minha intenção, ao contrário, é ajudar aos pastores que já passaram por isso. Quero enfocar justamente como um pastor pode recuperar a confiança dos membros e também como a igreja deve agir ante a essas questões.
Por favor, espero que entenda a nossa proposta.
Pastor, para adiantar nosso contato, segue abaixo quatro perguntas.
Caso não queira responder ou não possa, não será constrangimento algum para nós.
Perguntas e Respostas: colei minhas respostas dentro do corpo da entrevista.
1- Como ajudar um líder a resgatar a sua integridade espiritual junto a Deus e aos homens?
Resposta:
Com Deus isso não existe. Ou a pessoa é ou não é Dele. Ninguém mais tem esse poder e nem deveria se oferecer para essa presunção de mediação sacerdotal. Mas se por “restaurar” se está falando do sentimento de “promover o sentimento de pertencimento fraterno”–que é a única coisa que um ser humano pode fazer por outro numa hora de crise–então, basta simplesmente tratar a pessoa como a Bíblia trata a todo homem de Deus. Ou seja: “como homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos e fraquezas”. Se, todavia, se está falando em “integridade diante dos homens” como reputação, minha sugestão é a contratação de uma empresa para esconder o lixo e outra para vender a “imagem”. Mas se Deus faz parte da real preocupação, então, quem tem ouvidos para ouvir ouça; e quem tem olhos para ver, que veja. Já não é problema do homem se está bem com Deus e os outros não aceitam. Eles serão julgados pela sua presunção de verdade-imagem, não você!
2- Qual deve ser o comportamento da igreja ante a um escândalo por parte de um pastor?
Resposta:
Creio que Igreja com I maiúsculo não deveria se escandalizar com nada. Quem se enxerga não se escandaliza nunca. Não há nada no próximo que não exista também em mim. O estranho é que Jesus disse para não escandalizarmos os “pequeninos”. E Paulo fala de não escandalizar a consciência do mais fraco. O problema no meio evangélico é que quanto mais tempo de casa a pessoa tem, mais escandalizável se torna. Quando chega a ser pastor, aí mesmo é que se escandaliza com tudo. E por que? Porque precisa se escandalizar de tudo o que ele sabe que existe em si mesmo, mas não quer admitir. Então usa o “outro” como escândalo daquilo que ele mesmo, honestamente, sabe que existe latentemente em sua própria alma. Esse tipo de escândalo tem que ser enfrentado com escândalo. Com choque. Afinal, é doença. É inveja do pecado. Por que evangélico só se escandaliza de dois ou três pecados? Ora, são aqueles que não praticamos externamente e ficamos com raiva quando alguém tira de nós a desculpa de sua realidade velada. Portanto, a Igreja não tem que tratar de ninguém. Ela tem que se enxergar. Quem se enxerga é sempre misericordioso com o próximo, seja ele quem for.
3- Que tipo de ajuda o senhor recebeu?
Resposta:
Da “Igreja”, nenhuma. Quem se escandaliza nunca ajuda ninguém. Capacidade de se escandalizar depois de certo tempo na fé denuncia retardamento, não amadurecimento. Recebi ajuda de amigos. E me ajudaram tentando não me “ajudar”, mas apenas estando junto, sem me olhar como se eu fosse diferente deles. Quem anda perto de mim sabe que não levo sustos com essas pseudo-surpresas. A Igreja–sem aspas–me ajudou naquilo que amigos cristãos podem ser um para outro sempre. Não em casos especiais. Quem não me tratou com normalidade não recebeu de mim “passaporte” para visitar minha alma. Chegou um momento, que no meio de toda dor, eu olhava para a “Igreja” e pensava: “Meu Deus, como eu gostaria de poder ajuda-los!”
4- Como está sua vida hoje e como as pessoas te tratam?
Todos me tratam com todo carinho e respeito. Até os que eu sei que “falam à distância”, em minha presença são só respeito. É isto que as pessoas entendem quando chegam perto de mim: eu me respeito e quem tem outra idéia não tem coragem de dizer outra coisa em minha presença. O povo é bom e simples de coração. A classe pastoral é que às vezes tenta parecer alguma coisa. Mas como de alma de pastor eu entendo, na minha presença nunca encontrei sábios e nem arrogantes.
Minha vida está a minha vida. Mudanças? Muitas. Mas não sou outra pessoa. Estou apenas mais crescido e mais seguro do que nunca na Graça de Deus. Ou seja: em Cristo posso dizer que me tornei inescandalizável!
5. Existe ainda muita rejeição?
Resposta: Não. Em mim, nenhuma. O que vejo é que existe medo, fascínio e admiração nos que se candidatam à rejeitadores. Até os que me odeiam, me respeitam. Do contrário, teriam a coragem de me odiar em minha presença. Eles odeiam à distância. E rejeição desse tipo faz mal a eles, nunca a mim. O caminho que fiz na vida até o dia de hoje nunca foi o da média e o da acomodação. Sempre fui livre. Sempre disse o que pensava e penso. Quem conhece o amor de Deus e se sabe Dele inseparável não sente dor quando as criancinhas ficam mal-humoradas nas praças: sem conseguir nem dançar e nem chorar, como fizeram ante Jesus e João Batista. Se o coração chegou aí, não há mais incomodo diante de nada e nem de ninguém. Nesse caso, é você que passa a ser o incomodo. Mas quando o “retorno” ao incomodo sempre fica longe– sendo “corajoso à distância”–sobra a você duas opções: sentir raiva e se afastar de tão frágil convívio ou agir com misericórdia diante de tamanha fraqueza de consciência e que delata a quase total falta de auto-percepção. Eu escolhi o segundo caminho. Tenho pedido ao Pai que me faça misericordioso com os genuinamente fracos, intrépido com os retardados e implacável com os que sabem como as coisas são, mas fazem de conta que não sabem, apenas para exercerem o poder do medo. Quem quiser me visitar, é bem-vindo. O endereço de minha “casinha” é www.caiofabio.com
***************************
Um abração!
Caio
**************************
Rev. Muito obrigada.
Desculpe qualquer coisa.
Em Cristo,
O Jornailsta