—– Original Message —–
From: USO MACONHA E AMO A DEUS: o que faço?
To: [email protected]
Sent: Tuesday, June 20, 2006 3:07 AM
Subject: Liberdade!
Caio! Paz contigo, irmão!
Como é bom ter um pastor que é homem e irmão. Quero que você fique sabendo disso. Eu e muitos vemos você dessa forma e agradecemos a Deus por sua vida.
Mano, amei a resposta que você deu na carta “AMO FAZER VINHO: é pecado?” Mas me chamou atenção o seu “Ps”.
“Ps: O que aqui disse sobre o vinho, vale para tudo: de picanha a qualquer outra coisa. Nada é mal. O mal acontece com o que fazemos com as coisas; ou ainda está em “como” fazemos as coisas!”
Foi o seu “Ps” que me fez escrever. Olha só, irmão. Eu tenho 41 anos, sou casado há 13 anos, tenho três filhos, dois homens e uma menina muito linda, sou crente, sei que sou de Cristo, e amo também o meu próximo, e sou responsável com tudo. Tenho um bom emprego, sou muito criativo, e meus filhos e minha mulher demonstram me amar muito. Eu sei que trato todos muito bem, e é fácil quando a gente ama; né?
Agora o problema é que o meu problema é para os outros. É que eu nunca me convenci de que fumar maconha é pecado. Fumo desde os 21 anos, mais ou menos. E me converti quando tinha 26. Freqüento uma igreja pentecostal, e mesmo assim leio o teu site (ehhehe). Mas como te disse eu nunca senti que a maconha me fazia mal. Nunca vi como pecado. E nunca aceitei quando me diziam que era do diabo. Mas fumo apenas com a minha mulher. Ela não fuma. Mas aceita. Ninguém sabe que fumo. Só fumo em casa e na hora de relaxar. Nossos filhos não sabem (a nossa casa é bem grande). Fico preocupado em fazer mal a eles. Não quero fazer nada que prejudique a minha família. Mas também não me sinto culpado por fumar maconha. Fico calmo e muito mais atencioso. Um detalhe: leio muito a Bíblia e oro muito quando fumo. Me emociono com mais facilidade… Como sou publicitário eu creio que fico mais criativo…
Enfim, é isso aí, Caio. O que você me diz? Algum conselho? Alguma sugestão? Se puder me ajudar fico muito agradecido.
Um abração!
_______________________________________
Resposta:
Meu querido amigo: Graça e Paz!
Inicialmente me perdoe por ter mexido tanto em sua carta, pois, não fosse isso, não poderia tê-la postada no site. Havia muitas coisas que exporiam você em demasia. Por isso, enxuguei a sua carta; bastante.
Sim, o “Ps” é para “tudo” mesmo. Ora, é para “tudo” porque Jesus, em Marcos sete, nos disse que o que faz mal ao homem-ser-espiritual é o que procede de seu próprio coração; pois, o que sai do intimo do ser é o que cria o caminho exterior que nos andamos e praticamos. Assim, diz o Evangelho, Ele considerou limpos os alimentos e todas as coisas. E é bom não esquecer que no contexto o que estava em questão era lavar as mãos (que é um bom e salutar hábito), bem como a situação de que os fariseus jejuavam e também “purificam” tudo com água, até camas, colchões e tudo o mais. Além disso, Jesus também chamou para o palco das importâncias um outro tema, que era o do cuidado com aqueles que nos geraram, os pais. E disse que aqueles “que lavam tudo”, porque consideram tudo impuro, e assim sentem acerca de todas as coisas porque são cheios de impurezas no coração — são também justamente aqueles que “jeitosamente” manipulam a Palavra de Deus, tomando o nome de Deus em vão, e criando uma maldade religiosa protegida por uma fachada de espiritualidade e devoção à religião, e que cria o “jeito” para não honrar a pai e mãe, ajudando-os com bens na velhice. Ao invés disso, arranjam a “Desculpa Corbã” de que o que deve ser dado aos pais, sendo dado ao Templo, tem mais valor diante de Deus.
Ora, Jesus ilustrou a questão do que é do “lado de fora” em contrapartida ao que do “lado de dentro”, mostrando, por meio de comparação, que honrar pai e mãe equivale a cuidar do coração, a fim de que o caminho feito de ações e gestos seja agradável a Deus; e, assim, ensina também que praticar a “Desculpa Corbã” é equivalente a pensar que o coração pode ser podre de desafeto, que, mesmo assim, uma “generosidade feita à religião”, pode fazer a devida compensação.
A conclusão em Marcos é que assim fazendo e dizendo Jesus considerou limpos todos os alimentos. Além disso, Ele também abriu o flanco para que Paulo, com toda certeza, dissesse que “todas as coisas são puras para os puros de coração”.
A questão é que para a religião cristã o corpo é sempre mau quando convém; e é o santuário do Espírito Santo apenas para o que a ela convém.
Assim, quando convém, o corpo é o santuário de Deus para a pessoa não beber, não fumar, não dançar, não transar, ou transar fazendo sexo dos anjos; e outras coisas. E quando o crente é de natureza adventista, por exemplo, se diz a ele que a “dieta de Moisés” é o que se deve praticar para obedecer ao “Cardápio” do “Deus Nutricionista e Asceta”.
No mais, na maioria das vezes e para a maior parte dos crentes da religião, o corpo não é o santuário do Espírito Santo, por exemplo, para a língua frouxa e venenosa, nem para as ações de fachada e hipocrisia, nem tampouco para espancar a mulher; ou ainda na brutalidade domestica; ou mesmo em relação ao sexo, pois, os que não fazem e se jactam disso, em geral são os caras mais tarados que existem; como aquele evangelista americano que se jactava de não ter jamais posto uma gota de vinho na boca, ao mesmo tempo em que pagava prostitutas para fazerem “de tudo” para ele; e até, algumas vezes, nele; coisas como chicoteá-lo, por exemplo; mas que afirmava que nunca havia adulterado e nem sido sexualmente promiscuo, apenas porque dizia que nunca fez introdução de seu pênis em ninguém que não fosse a senhora esposa dele. Esse é o espírito!
Ora, se Jesus estivesse dizendo que não era para ser higiênico e nem para cuidar do corpo com respeito e carinho, Ele não estaria sendo conforme Seu próprio Evangelho, que é Vida. Entretanto, Jesus não estava recomendando a falta de higiene em relação ao que se come. O que Ele estava rejeitando era a tentativa de fazer da “dieta” algo que elevasse a pessoa espiritualmente ou que desse a ela um status de santa e limpa; pois, para Deus, até um homem com um caldo de bactérias na boca como um Dragão de Komoto, é limpo, se seu coração caminhar na Graça que a tudo vê com gratidão. Por outro lado, à semelhança dos fariseus, a pessoa pode se lavar, somente comer o que faz bem ao corpo, dar todo o dinheiro para a “igreja”, não fazer externamente nada ruim contra si mesmo, nem tampouco deitar-se com qualquer mulher que não seja a sua própria; e, apesar disso, ser como “um sepulcro caiado”; como “uma sepultura invisível”; ou ser “limpo por fora, enquanto por dentro é cheio de sujidade e rapina” — conforme Jesus disse muitas vezes.
Isto posto, tem-se que dizer também que o diabo nunca criou nada neste mundo. Nunca nasceu uma única planta no universo que tenha sido uma criação do diabo. O diabo ajuda os homens a fabricarem aquilo que não existe de si mesmo, e que se torna “algo novo” em razão de combinações perversas que os homens fazem entre certos elementos naturais.
Tem-se também que dizer que nesse mundo de uso de elementos naturais, tudo é neutro; dependendo de “como” se usa cada coisa. Exemplo: nada é tão bom quanto água, mas em excesso, mata. Ora, se é assim com o elemento primordial da vida, como não será com as demais coisas?
Até ar mata! Na realidade nós morremos de respiração e não vivemos sem respirar. Sim, porque é o oxigênio sem o qual não vivemos a coisa que em si mesma nos envelhece mais rápido; e, portanto, nos salva enquanto nos vai matando… Tudo é também assim na natureza caída das coisas.
Aqui neste ponto aparece a palavra vício. O que é vício? Vício é algo que é maior do que a nossa vontade e que nos põe no caminho da dependência daquilo que dizemos que não conseguimos resistir ou ficar sem seu uso ou presença.
Ora, seguindo a ordem de importâncias de Jesus em Marcos sete, vemos que os piores vícios são os que não aparecem; pois são mentais; aparecendo somente como “modo de ser”. Os vícios mentais, os vícios do pensamento e dos sentimentos, são, de modo disparado, os piores vícios humanos; pois, eles podem se esconder sob o manto da funcionalidade; e, justamente por essa razão, colocar o ser mentalmente viciado no auto-engano de pensar que porque não fuma, não bebe, não dança, não joga, e transa como anjo em missão — ele é sem vícios. Este é um dos grandes enganos da ignorante hipocrisia religiosa.
Ora, numa escala de vícios, eu diria que uma disposição mental reprovável é o pior deles (aqui no site há um texto longo sobre o tema em Reflexões, eu creio); seguido de vício do humor perverso, que destrói qualquer coisa no caminho; e seguido do vício da língua, que é, em prazo médio, a coisa mais diabólica que existe.
Dentre os vícios que nos acometem sem introdução de elementos químicos, mas exclusivamente em razão da prática excessiva ou compulsiva, o mais poderoso de todos os vícios é o de natureza sexual; não importando a tendência sexual da pessoa. Todavia, quando uma pessoa se vicia em sexo (sexo por sexo), ou quando se vicia num parceiro sexual abusivo — tal pessoa experimentará uma das mais fortes formas de vício; pois, tanto altera o cérebro, como também a alma; e, ambos: cérebro e alma, juntos — criam um terceiro termo, que é o vício alimentado pelas pulsões da alma, que alteram as produções químicas do cérebro; e que retro-alimentam as pulsões da alma…; virando uma “coisa-em-si-mesma”; ou seja: com vida própria.
Já em relação aos vícios químicos, eu diria que a heroína, o crack, a cocaína, as balas (ácidos, esctase, e outros…), são os piores; seguidos do álcool de modo bem imediato. Na seqüência do que faz muito mal vêm também drogas legalizadas, como os soníferos, os calmantes, os excitantes, etc…
A maconha é contada entre as drogas, ao passo que o álcool não é. Por quê? Ora, se você tiver interesse na História, tente buscar no History Channel um documentário muito bem feito acerca da História da Criminalização da Maconha. Entretanto, até a década de 30, nos Estados Unidos, era algo livre. Na Europa toda também, por séculos; inclusive na corte da rainha Vitória, que fumava para dormir. Desse modo se pode dizer que a maconha é o “jogo do bicho” entre as coisas chamadas de “drogas”. Ou seja: o problema não é a coisa em si; mas sim “quem” é que a controla. Ora, loterias são permitidas e incentivadas, mas o “jogo do bicho” não. Por quê? Porque “quem” faz não é a elite. Quando interessa a elite, todo “jogo do bicho” vira algo dentro da legalidade. Mas quando não interessa até água vira droga. Desculpe a hipérbole!
Conheci maconha com 12 para 13 anos de idade. Prematuramente, é claro! E, pela minha experiência, sei que maconha faz mal a adolescentes, pois tira a concentração; e, além disso, pode levar a pessoa tendente à introversão e à depressão, a acharem-nas numa época horrível para se deprimir.
Maconha é um alterador de estado de espírito muito fraco e basicamente é um calmante natural; porém, na época errada, à semelhança de qualquer outra coisa, pode fazer muito mal. Na adolescência é onde existe o maior potencial para que tal aconteça.
Entretanto, não importando a idade, maconha não faz bem para ninguém que tenha que desenvolver no dia a dia qualquer que seja a atividade que demande concentração mental e de atenção objetiva.
O pintor, o músico, o escritor, o interprete, e todo aquele que desenvolve uma atividade “criativa”, não sofrem, em geral, perda alguma; mas, ao contrário, segundo eles, ganhando na “criatividade”. Quem, porém, trabalha com coisas que demandem foco, atenção, reflexo, concentração e contas, em geral se prejudica; pois a memória imediata tende a ser esquecida; e, assim, a objetividade é perdida.
Assim, meu amigo, só não digo que a sua situação equivale à do irmão do Vinho (em razão de quem você me escreveu) porque o que ele gosta, é legalizado; e o que você gosta, não é. Desse modo, você se põe numa zona de risco de punição humana que ele, o moço do Vinho, não está e não sofre.
O ideal de Deus para cada um de nós é que sejamos, todavia, o mais livre possível de vícios e dependências; começando, obviamente, por aquelas coisas que “entram no coração e contaminam o homem”; conforme Jesus ensinou.
Vícios todos têm. Alguns são vícios legais e politicamente corretos. Outros são vícios ilegais e criminalizados. O alvo, em Cristo, é crescer para além de toda dependência, o máximo possível. E, nessa questão, ao invés de julgarmos uns aos outros, deveríamos era ajudar a levarmos as cargas uns dos outros; cumprindo assim a lei de Cristo.
O mais, meu irmão, olhe para seu coração e pergunte por que você gosta tanto de maconha. E busque ver se há algo ruim nesse gosto. E não precisa dizer que dadas as circunstancias que envolvem o uso da maconha, todo cuidado é pouco; pois, grande é a hipocrisia! Especialmente porque, no Brasil, a maior parte desses “negócios” está nas mãos da polícia, que é a maior interessada na não solução do problema. A Polícia não quer resolver o problema. Sim, muitos policiais diriam e dirão que querem a solução, mas de fato não desejam; pois, a descriminalização seria o primeiro passo, mas quebra as pernas do trafico de armas e de outras coisas, as quais interessam a muitos policiais que não terminem, visto que o seu maior ganho vem dos acordos feitos com o “tráfico”. E não esqueça: passei três anos e meio visitando Bangu I, conheci todos os “grandes bandidos do folclore brasileiro”; e, também, fiz parte de comissões do Estado que buscavam combater o problema; e as conclusões que cheguei, depois de muita observação e reflexão, comparando os males — o da criminalização e o da não-criminalização — e, com a ajuda de muitos especialistas, concluí que a segunda opção é menos mal que a primeira. Mas quem não acreditar no que eu digo, fique e veja; sim, veja se daqui a 20 anos as coisas não estarão MUITO, MUITO, MUITO piores!
Concluindo, agora já falando na questão “ética” da descriminalização, além de dezenas de textos no site que você pode ler, apenas digo que num mundo Caído — ou seja: que não é um Éden —, não existe a possibilidade da aplicação legal de uma ética-ideal-universal pelo simples fato de que, num mundo Caído, não existem escolhas entre o Excelente e o Sublime, mas, na melhor das hipóteses, entre o Razoável, o Ruim e o Péssimo. E o Evangelho nos ensina (conforme os aplicativos que Jesus e Paulo fizeram) que cada um deve vir conforme foi chamado; e, também, que frequentemente se tem que escolher entre um mal menor; pois, este mundo jaz no maligno; não havendo, nele, portanto, nada que possa ser universalmente praticado como bem ideal por todos. Assim, com muita freqüência, tem-se que partir de onde se está; pisando o chão da realidade; a fim de começar a indicar o alvo, o ideal; mas não sem antes se diminuir, no mínimo, os males que podem ser diminuídos enquanto não se chega ao ideal.
Num mundo Caído tem-se que pensar que alguma coisa é sempre melhor do que a coisa que come todas as coisas. Um átomo é melhor do que um Buraco Negro, pois de 1 átomo, a vida pode explodir, para fora, como vida; mas num Buraco Negro nada que pode ser, continua a ser; pois é comido; tornando-se o oposto de si mesmo: a anti-coisa. O bom mesmo é que o mundo fosse todo bom. Mas como não é, então, para começar, dos males o menor. Mas a “polícia”, nessa questão, deseja dos males, o pior. E as autoridades não têm peito para enfrentar a hipocrisia de frente e fazer algo objetivo a fim de diminuir o problema, ao invés de o tornarem insolúvel apenas porque vampiros não desejam, e, aliados a eles, outros, possuídos pela presunção de que, pelas leias ou pela força, possam parar as compulsões do coração humano.
O ideal mesmo, falando agora de modo pessoal e individual, é que isso não seja e nem fosse uma questão na sua vida. Mas como é, e há filhos envolvidos, sugiro que você busque, com sabedoria, encontrar o bem senso que a situação pede. Tudo o que você não precisa é ter seus filhos tentando imitar você; e, com chances de se darem mal.
Decidi no meu coração que minha ajuda a você só vai até aqui. Daqui para frente é com você, Deus, sua consciência, e sua própria responsabilidade como homem e também como pai.
Meu alvo, todavia, é chegar àquela estatura humana na qual eu mesmo não precise de nada nunca, conforme Jesus, que apenas se alimentava do fazer a vontade do Pai. Até lá, todos os dias, quando sondo minha mente, alma e espírito, descubro vícios de pensamento, de sentimentos, e de condicionamentos históricos, genéticos e culturais. Assim, a partir de mim mesmo, descubro que “existir” é vício. Daí somente conhecendo a verdade alguém poder se libertar da existência (que é vício), para a vida, que é cada vez mais liberdade; a qual cresce conforme a consciência vai ficando cada vez mais fincada na alegria de, dando razão a Deus, se satisfazer com Sua Vontade que a nós seja revelada.
Assim, pergunte ao Pai; e Ele mesmo falará com você!
Nele, que criou tudo para o nosso bem, e nada para o nosso mal,
Caio
Ps: Tudo o que eu disse na carta que fez você me escrever (TUDO!), é para ser incluído aqui também. Certo?