Deve haver gente pensando que a morte de meu filho me surtou, e que agora estou falando de minha dor como se fora a dor de todo o mundo.
Bem, é a dor de todo o “meu mundo”; e só Deus sabe de que tamanho ele é.
Sou “são” o suficiente para discernir as interpenetrações de percepções em processo, dentro de mim; e faço diferença razoavelmente clara entre essas muitas faces de meu sentir-hoje, e a realidade. Além disso, eu também avalio o impacto deste “apocalipse pessoal” sobre minhas percepções.
Porém, tudo o que aqui digo, o faço tendo-me como o mais ardoroso antagonista de mim mesmo. “Mas faltam-me argumentos em contrário”—como diria Mohamed Ali.
De fato, já faz dois anos que venho cada vez mais tangenciando o tema. Nos últimos dois meses ele cresceu muito em mim. Quando a gente pensa muito no Fim dos Tempos, a tendência é fazer o coração mergulhar em desespero, ou em mórbida apatia. Daí, a questão ser: Como viver sabendo que vivo o Fim dos Tempos?
A resposta do Evangelho é uma só: Fazendo de você a melhor versão de você mesmo; andando em misericórdia, com a alma aberta ao faminto, e uma casa acolhedora no ambiente do ser; saciando as reais necessidades uns dos outros, e caminhando em permanente processo de transformação.
Pois deste fel há de sair doçura!
Portanto, o que se diz é: Viva e seja o melhor mundo enquanto você vai… O verdadeiro mundo acontece em você. Nele realize a paz. Nele efetive reconciliações. Nele busque a verdade, dentro de você.
Haverá, obviamente, inúmeras implicações do lado de fora. É tempo de poda, para que se dê mais fruto ainda!
Mas insiste a pergunta: Como viver sabendo que vivo o Fim dos Tempos? Isto porque corre-se o risco da desistência! A resposta do Evangelho é simples e chocante: Com paroxismo existencial total!
Como é isto?—é a questão inapelável.
Chorando com os que choram, enquanto nos alegramos e nos regozijamos com o Galardão nos céus.
Galardão? “Palavra esquisita na boca de quem só vive falando que tudo é Graça!”—alguém diria.
Realmente! Mas é que creio que Galardão é Graça. É a surpresa Suprema para o ser em Cristo. Isto é Galardão! A Suprema Surpresa. Algo como uma pedrinha branca, na qual está escrito um novo nome, que ninguém conhece, exceto aquele que o recebeu. Então, conhecerei como também sou conhecido. Anelo por esta Surpresa!
Assim se tem que viver! Assim viveram os que um dia creram que o Fim dos Dias havia chegado; isto com bem menos razão para o fazerem do que nós temos hoje.
Ainda vai rolar muita água debaixo da ponte, mas, levando-se em consideração apenas a História da Civilização Humana, eu diria que o fim está próximo; visto que se meu referencial fosse o do momento da Criação, eu diria: o mundo já acabou! Quer dizer: acabou de ser criado outra vez! O nome do Capital do Novo Mundo é Nova Jerusalém!
Caio
(Escrito um mês depois da partida de meu filhote Lukas; e real então, tanto quanto hoje; e, com a Graça, assim será também amanhã!)