VIZINHO BRONX – o apocalipse da música
A cada dois meses mais ou menos alguém surta na casa de um de nossos vizinhos, e põe um daqueles carros de som dentro da área da casa, nos fundos, e liga o som no mais infernal de todos os volumes, o qual (digo, o nefasto volume) faz vibrar o chão do outro lado (digo: aqui onde estou sentado escrevendo, no jardim-quintal da casa); e assusta os passarinhos; sem falar que ensurdece você.
É aquele ritmo de batidas eletrônicas continuas e sem novidade, e que tem nas percussões graves seu maior poder, enquanto uma voz humana semi-digitalizada narra cenários urbanos e existenciais, como se você fosse levado pelo narrador ao ambiente de um gueto.
É o ritmo que dês-ensinou a dança como molejo, como expressão criativa e desarmada do corpo, e, sobretudo, como expressão da alma em poesia através do corpo.
É o ritmo que canta sem cantar, que narra sem melodia, que dança sem música, que narra sem poesia, que balança sem criatividade, e que dança sem embalo, mas apenas com pulinhos.
Aqui estou eu…
Não entendendo como seres humanos conseguem ter prazer em tamanha ofensa aos ouvidos, ao cérebro, ao ambiente, e ao próximo, tendo alegria em algo que pode ser um grande desconforto para todos ao redor.
É o som eletrônico e agressivo do apocalipse da música.
O pior é que simplesmente não combina a quietude do Lago Norte com esse alvoroço do Bronx.
Mas se o vizinho é bronx, então o Bronx é aqui.
Caio
31/03/07
Lago Norte
Brasília