VOCÊ ERA A VOZ HUMANA QUE FALAVA O EVANGELHO
Querido amigo-irmão Caio,
Embora nunca tenhamos nos encontrado, permita-me chamá-lo de querido, amigo e irmão, sem maiores cerimônias e sem me referir a títulos. Afinal, você tem falado comigo há anos. Freqüenta (abundantemente) minha estante há uns quinze, e esteve em minha TV até o último “Pare e Pense”. Sempre parava e pensava; primeiro sozinho, depois, com minha esposa, ante a Palavra de Deus que, dita por você, calava fundo em nosso coração. “Ninguém fala ao meu coração, em nível tão pessoal, como ele”, dizia minha mulher, e eu, claro, fazia coro – aliás, dueto. Em uníssono perfeito. Quando sua voz cessou, amado, foi como se tivessem calado a única voz humana, em termos de liderança espiritual, que para mim fazia sentido pleno, e, assim como muitos, muitos outros, vi-me órfão da voz que clamava no deserto. Aí o deserto ficou mais deserto. A aridez, a sensaboria, a obviedade, a manipulação, a leviandade, a idiotice – enfim, uma miríade de coisas semelhantes a essas era só o que restava na mídia chamada “evangélica” – pelo menos até onde tomei conhecimento. Assim, era melhor ver o Faustão. Menos doentio: pelo menos era o que era…
Não o estou idolatrando, amado. Não estou, tampouco, massageando seu ego, coisa de que você não precisa (embora sinta que nossas almas se entrelaçam num abraço fraterno, selado pelo sangue do Cordeiro). Estou tão-somente reconhecendo algo do que você é, até onde me é possível vislumbrar. Você não tem um ministério; você é um ministério. Gostem ou não, Deus soberanamente o iluminou para esse fim. E fim! E agora, para nossa (você sabe de quem falo ao dizer “nossa”) alegria, está de volta, e com um mi-net-stério maravilhoso – este site, que só conheci há três dias mas já me absorveu durante três madrugadas.
Cara, como é BOM ver, ouvir e falar com alguém verdadeiramente livre em Cristo, que para a liberdade nos libertou – com redundância e tudo! Gente que não tem medo da Verdade – de TODA a Verdade. Gente que não pregue meias-mentiras ao pregar meias-verdades, que são mais insidiosas e peçonhentas que a “pura mentira”. Como a Igreja está sedenta de GENTE assim, na liderança e no Corpo como um todo; gente que se reconheça como gente, que não se auto-intitule Super-Homem, nem Mulher-Maravilha. Que não aja como um Hitler eclesiástico. Que não seja despenseiro infiel; que não engesse a alma do outro; que não agrilhoe o coração do povo; que não chantageie ou manipule sacudindo hipocritamente aquela Bíblia tijolar… Ora, a lista é infindável. E óbvia também. Mas nem por isso deixa de causar indignidade (mas não escândalo) em quem a vida tornou um pouquinho mais afiada a percepção existencial. Eu, no íntimo – e até na superfície –, estou cansado e enojado dessa situação.
É verdade que – graças a Deus! – ainda há GENTE na Igreja, líderes e liderados. Gente agraciada pelo Pai; gente generosa, misericordiosa, que possui coração de carne; que, embora imperfeita, empenha-se, sem neuras eclesiásticas, em ser semelhante a Cristo. Desgraçadamente (des-graçadamente, des-graçada-mente, desgraçada mente), porém, estão muito longe de ser maioria. A Igreja, ultraminoritária na Terra, está muitas vezes inserida na / engolfada pela gigantesca “igreja”, infinitamente superior em número. E aí a maioria esmagadora esmaga a alma da gente. “Foi assim que fez em mim / foi assim que fez em nós…” Pisam no coração da gente com “sapatilhas de arame” – só não dançam porque “dançar é pecado”, ora!!! (a menos, é claro, que o pastor, ou bispo, ou apóstolo os autorize a dançar em certas situações específicas, sob sua rigorosa supervisão… o que, a propósito, me faz lembrar a expressão “coreografia de aflitos”, cantada pelo saudoso Sérgio Pimenta em “Liberdade para Amar”).
Bem, meu caro, vou parando por aqui. Meu objetivo principal, neste e-mail, era, de início, apenas expressar minha alegria pelo seu retorno. E, meio que involuntariamente, acabei fazendo também, no que tange à “igreja”, um verborrágico desabafo, já que minha alma anda abafada… Mas com relação ao abafamento de minha alma escreverei mais detalhadamente depois (e aí vou mesmo precisar de sua ajuda!). Aliás, quem vir este escrito, de início haverá de julgá-lo redigido por alguém cheio de segurança, de solidez (que, aliás, é minha pseudo-imagem pública), mas se enganará, assim como se engana a maioria dos que convivem comigo: embora eu ame Jesus de todo o coração, e saiba de seu amor incondicional por mim, tenho andado tão péssimo que às vezes a morte é um doce anelo. Sem pieguice, digo-lhe que rastejo qual verme andrajoso, para quem a cessação da vida seria um grande presente. Mas, repito, quanto a essas realidades opressivas e esmagadoras que me vêm assaltando escreverei depois. Por ora, ore, ora! 🙂
Um beijo bem fraterno e um abraço carregado de empatia,
No Nome, sempre,
Um Sobrevivente